Paul Newman aos trinta
Ele foi o
mais longevo de uma geração que tinha Montgomery Clift, Brando, Dean e Steve
McQueen
Ruy Castro/Folha de S. Paulo
Paul Newman, um dos grandes de Hollywood, teria feito cem anos no dia 26 último. Paul Newman, cem anos! Não combina. Aos cem anos, o sujeito é levado a tomar sol sentado numa cadeira e com uma manta xadrez nas pernas. Eu sei, é só um clichê, e eu próprio tenho amigos que estão perto da marca e longe dessa descrição. Mas Paul Newman não foi feito para ter cem anos, e sim, sempre, trinta. Minha amiga Rita Kaufman, jornalista, me disse certa vez: "Se Paul Newman, aos trinta anos, tocasse o meu interfone pedindo para subir, eu já o receberia de baby doll."
Mas os trinta anos de Paul Newman sempre foram uma fantasia.
Mesmo em seus primeiros e grandes papéis, como Billy the Kid em "Um de Nós
Morrerá", o Brick de "Gata em Teto de Zinco Quente" (ambos
1958), o Eddie de "Desafio à Corrupção" (1961), o Chance de "Doce
Pássaro da Juventude" (1962) ou o Hud de "O Indomado" (1963), já
tinha deixado os trinta para trás. Aliás, quando fez seu primeiro filme para
valer, "Marcados pela Sarjeta", em 1956, como o boxeur Rocky
Graziano, já tinha 31.
Com
alguns anos de diferença entre eles, Newman fez parte de uma geração única:
Montgomery Clift, de 1920; Marlon Brando,
de 1924; ele, de 1925; Steve McQueen,
de 1930; e James Dean, de 1931. Todos estudaram teatro em Nova York com Lee
Strasberg ou Stella Adler, todos fizeram o gênero "rebelde" em
Hollywood e, na tela, todos usavam os mesmos truques: mãos nos bolsos de trás,
queixo enterrado no peito, longos silêncios antes de falar e uma dicção
abafada, como se falassem com as gengivas.
No
cinema ou no teatro, Brando herdou papéis de Clift, Dean herdou papéis de
Brando, Newman herdou papéis de Dean, e McQueen, que não herdou papéis de
ninguém, devia sofrer horrores ao ver seus colegas consagrados enquanto ele
ainda filmava besteiras, como "A Bolha Assassina", de 1958, e custava
a estourar.
Newman
foi, disparado, o mais longevo. Trabalhou até morrer, em 2008, com 83 anos. E,
de alguma forma, era como se ainda tivesse trinta.
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