09 outubro 2020

Epidemia: onde estamos?

Brasil chega a 5 milhões de doentes com lento prolongar da pandemia

Embora tenha havido uma queda no registro de casos e mortes nas últimas semanas, vai se confirmando uma lenta e gradual queda na curva epidemiológica que torna a pandemia brasileira mais duradoura.

Cézar Xavier, portal Vermelho

 

O país ultrapassou hoje a marca de 5 milhões de infectados pelo novo coronavírus. Com 734 mortes registradas nas últimas 24 horas, o total de óbitos em decorrência da Covid-19 é de 148.228. As informações foram divulgadas na noite de hoje pelo Ministério da Saúde.

Segundo o levantamento do consórcio da imprensa, a média móvel de mortes no Brasil nos últimos 7 dias foi de 631, uma variação de -9% em relação aos dados registrados em 14 dias. É o 15º dia seguido com essa média abaixo da casa dos 700. Também é a menor média móvel de mortes desde o dia 11 de maio.

Desde o dia 14 de setembro, a tendência na média móvel de mortes segue em estabilidade, ou seja, o número não apresentou alta nem queda representativa em comparação com os 14 dias anteriores. Antes disso, o país passou por um período de uma semana seguida com tendência de queda no registro de mortes por Covid-19.

A pasta contabilizou 31.553 novos casos da doença desde ontem, totalizando 5.000.694 infectados. O governo considera 4.391.424 casos recuperados e afirma que há 461.042 pacientes em acompanhamento.

A média móvel de novos casos foi de 26.967 por dia, uma variação de -7% em relação aos casos registrados em 14 dias, segundo a imprensa. Ou seja, também encontra-se na faixa que aponta estabilidade.

Brasil no mundo

O Brasil é o terceiro país do mundo a ultrapassar o patamar de 5 milhões de casos, após os Estados Unidos (7.767.224) e a Índia (6.832.988). Já em relação ao número de mortes, fica abaixo somente dos EUA (com 210.232 óbitos, segundo o CDC – Centro de Controle de Doenças).

Em termos proporcionais, o Brasil foi mais atingido pelo contágio que os EUA, com 23.482 casos por milhão de habitantes, enquanto o país do Norte teve 23.429, sendo que o Brasil tem 212 milhões de habitantes contra 331 milhões dos EUA. Em termos de óbitos, o Brasil está em 4o. lugar (junto com a Espanha) como o país que mais perdeu doentes na proporção de milhões de habitantes. Com seus 653 mortos por milhão de habitantes, os EUA estão em décimo lugar, enquanto o Brasil tem 693 óbitos para cada milhão.

O Brasil ainda está em 90o. lugar entre os países que menos testaram a população por milhão de habitantes (84 mil). Neste ranking, os EUA estão em 19o. com seus 334 mil testes por milhão de habitantes. Proporcionalmente, o Brasil tem mais de 14% dos casos de Covid-19 de todo o mundo, que soma 35,5 milhões de contágios, segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde).

Na maioria dos países, a curva epidemiológica desenha aceleração, pico e queda de casos e mortes, seguida de nova onda de contágios depois da flexibilização da quarentena. O Brasil é o país que não apresentou o mesmo tipo de gráfico, pois tem um prolongamento acentuado de sua curva de estabilidade no pico de casos e mortes. Com isso, sequer foi possível detectar uma segunda onda de contágios.

Motivos dos 5 milhões

A diferença entre Brasil e outros países que conseguiram reduzir drasticamente o contágio num primeiro momento, foi o nível de distanciamento social mantido. Comparativamente, foi como se o Brasil estivesse com flexibilização de quarentena desde o início da pandemia. Não houve, aqui, os rigores do distanciamento social de países vizinhos, inclusive.

Esta peculiaridade se deve, segundo especialistas, na falta de coordenação nacional do sistema de saúde, e falta de um comando central com um discurso claro em defesa de medidas sanitárias. O presidente da República, Jair Bolsonaro, particularmente, sabotou todas as medidas sanitárias mais sérias sugeridas por autoridades sanitárias e implementadas por governadores e prefeitos, conforme orientação internacional.

Com isso, apelou para a prescrição de um remédio milagroso sem qualquer comprovação científica, o que confundiu a população. Dificultou o acesso das empresas a crédito emergencial e à população a uma renda emergencial para que pudesse permanecer sem trabalhar e manter o distanciamento social. Demitiu ministros que defendiam os protocolos sanitários. Estimulou aglomerações públicas contra as medidas sanitárias e obstruiu o quanto pode o trabalho do Congresso em aprovar medidas de socorro à economia do país e à saúde da população.

Com isso, em nenhum momento o vírus teve a circulação livre interrompida. As taxas de isolamento social eram baixas, com a população tendo que sair para buscar o sustento, muitas vezes desconfiando das medidas sanitárias. Com uma flexibilização da quarentena cada vez maior, a curva permaneceu no pico indefinidamente, durante meses.

A novidade nesta semana são grandes cidades do país autorizando o retorno às aulas, enquanto a população e professores resistem a retomar aulas presenciais com receio da doença. Na capital paulista, de 4 mil escolas autorizadas a voltar, apenas uma abriu com alguns poucos alunos. Este é outro indicativo da descoordenação em que se dá a flexibilização do isolamento social, com governos sofrendo pressões econômicas para reabrir empresas, enquanto a população percebe a dimensão letal da pandemia.

A sinalização de queda lenta está relacionada com o alto grau de contaminação já havido na população, com o aumento da testagem e o aumento do hábito da população com medidas de higiene, como o uso da máscara para respirar. Mesmo isso, pode estar em dúvida, conforme as pessoas relaxam e passam a considerar que não há mais risco, promovendo cada vez mais aglomerações sem qualquer proteção epidêmica.

A pandemia demorou três meses para alcançar o primeiro milhão de infectados. Depois disso, foi menos de um mês para acumular cada novo milhão de casos até chegar a 4 milhões. Agora, a corrida ficou mais lenta, com o quinto milhão de novos casos tendo sido contabilizado no intervalo de pouco mais de um mês. Desde junho, os balanços da Saúde apresentaram mais de milhão de diagnósticos positivos a cada mês.

Covid-19 nos Estados

No total, 4 estados apresentam alta de mortes: Espírito Santo, Acre, Amazonas e Amapá.

No Amazonas, o número voltou a ser impactado por mortes de meses anteriores cujas causas foram revisadas para Covid-19 pela Secretaria Municipal de Saúde de Manaus. Na quinta-feira (1º), 114 mortes por Covid-19, que ocorreram em abril e maio, foram somadas à conta após reclassificação, o que deve refletir na média de mortes do estado na semana.

  • Subindo (4 estados): ES, AC, AM e AP
  • Em estabilidade, ou seja, o número de mortes não caiu nem subiu significativamente (12 estados + o DF): RS, SC, MG, SP, DF, GO, MS, MT, AL, BA, CE, MA e SE
  • Em queda (10 estados): PR, RJ, PA, RO, RR, TO, PB, PE, PI e RN

Essa comparação leva em conta a média de mortes nos últimos 7 dias até a publicação deste balanço em relação à média registrada duas semanas atrás.

Viver em tempo de pandemia é um desafio https://bit.ly/2Xm2lK5

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