A palavra da moda
Luciano Siqueira
Sim, já reconheci
inúmeras vezes que não estou entre os paladinos da língua portuguesa
brasileira. Não por falta de vontade, mas por incompetência mesmo.
Defender algo com
mestria e autoridade é atributo de quem domina o assunto. No caso, o idioma.
Minha relação com o
português falado e escrito no Brasil é antes de tudo de prazer e paixão. Nossa língua
é sonora, musical – seja na sua forma escorreita, seja no dizer popular. Mas
não domino suas regras.
O modo do povo se apropriar
do idioma, sobretudo num jovem país como o nosso, define a intensidade com que
neologismos e novas expressões o vão enriquecendo.
Nada a ver com a
palavra da moda. Ou a expressão do momento.
Ao invés de dizer
concordo, apoio, gostei... diz-se “é show!”
Coisa sem graça.
Se Ariano ainda
estivesse entre nós corrigiria: show, não, espetáculo!
Aqui e acolá recebo
uma mensagem no WhatsApp que se inicia ou se conclui assim: “show”.
Acho uma chatice,
mas fico na minha. Afinal, minha mãe Oneide ensinou os filhos a respeitarem
sempre o jeito de falar dos outros. Para ela, repelir seria falta de educação e
de caridade.
Ora, se alguém
pediu minha ajuda para resolver determinado problema através da Prefeitura,
desentupir uma canaleta, por exemplo, e me agradece assim: “show!”, me dá
vontade de perguntar aonde, qual a banda, quem são os cantores e que tais.
Parece aquela
preguiça terrível que leva internautas a responderem uma mensagem com o desenho
do polegar pra cima ou duas mãos batendo palmas. Sinto-me tratado como criança
e suponho que meu interlocutor ou interlocutora sofre de uma detestável
preguiça. Por que não escrever “ótimo!”, “tudo bem” ou algo assim?
A gíria, não.
Geralmente é espirituosa, inventiva e bem-humorada.
Se gostou, pode
escrever “foi do carai”. Eu gosto.
Veja: A vida não se resume num samba curto https://bit.ly/3hN3UrP
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