19 outubro 2020

Seleção brasioleira inova?

Tite está atento aos novos tempos, mas precisará de sabedoria e ajuda

Seleção realizou coisas diferentes das que fez na Copa de 2018, nos amistosos e na Copa América

Tostão, Folha de S. Paulo

 

Diferentemente da maioria dos treinadores brasileiros, Tite mostrou, nos dois jogos pelas Eliminatórias, que está atento ao que acontece no mundo. A seleção realizou coisas diferentes das que fez na Copa de 2018, nos amistosos e na Copa América.

Coutinho, que jogava de uma intermediária à outra, sem conseguir, pois não tem força física para marcar e avançar, atuou contra a Bolívia e o Peru mais perto da área, onde pode driblar, trocar passes e finalizar, o que faz muito bem.

Neymar atuou livre, mais perto do gol adversário, geralmente da esquerda para o centro, deixando um espaço na ponta para o lateral Renan Lodi avançar, pois é rápido e cruza bem.

A seleção atuou nos dois jogos com cinco jogadores no ataque (Richarlison ou Everton, Coutinho, Neymar, Firmino e Renan Lodi), como é frequente em algumas equipes, como o Atlético-MG, o Manchester City, o Liverpool e outros. Além disso, o time brasileiro tentou marcar por pressão e recuperar a bola mais perto do outro gol, o que fazia pouco.

Porém, há sempre um porém, as equipes que jogam dessa maneira costumam deixar espaços na defesa e perder alguns jogos, até por goleada. O Peru fez dois gols e poderia ter feito mais.

Os espaços ficaram muito grandes para Casemiro e Douglas Luiz marcarem no meio-campo. Danilo fechava para ser um terceiro pelo meio, mas tinha de cuidar também da lateral-direita, ainda mais que nem sempre dava tempo para Richarlison ou Everton voltarem para ajudar pelo lado. Qual será a postura tática do Brasil contra um grande time europeu? Eis a questão.

Eu teria convocado Filipe Luís, que nunca jogou tanto quanto agora no Flamengo. Poderia ser uma opção, em vez de Renan Lodi. Tite teria a alternativa de inverter os lados de marcação e de apoio. Poderia jogar com Filipe Luís como um construtor do lado esquerdo, com um ponta aberto, e escalar Danilo de lateral, para marcar e avançar pelo lado, pois não tem talento para ser um construtor do lado direito, um armador de jogadas, como quer Tite.

O Brasil tinha cinco no ataque e poucos jogadores para marcar. Isso me lembrou do 7 a 1, quando Felipão, desde o início do jogo, encheu o time de atacantes e deixou apenas dois no meio-campo, enquanto a Alemanha, com vários armadores, trocava passes, ficava com a bola e envolvia o time brasileiro.

Por falar em Felipão, sua contratação pelo Cruzeiro, além de ter sido a de um grande personagem, que pode estimular positivamente a equipe, representa uma busca pelo imponderável, pelo inexplicável, pelo mistério. Não acredito no mistério, mas ele existe. Quem sabe dá certo?

Volto à seleção atual. Após o 5 a 0 sobre a Bolívia, Tite disse que Neymar é agora o arco e a flecha, por não ter feito, mas por ter dado vários passes para gol. Quando estreou pelo Santos, o menino já era arco e flecha. Sempre foi excepcional para dar passes e fazer gols. Além disso, finaliza com os dois pés, é veloz, dribla como nunca, bate escanteios e pênaltis e faz tudo com enorme precisão.

Falta a Neymar ter mais calma e paciência para esperar o momento certo de brilhar. Ele é apressado, ansioso para dar show em todos os lances. Isso gera muitos confrontos físicos, com riscos de expulsões, contusões e simulações.

Tite está atento aos novos tempos. O treinador vai precisar de sabedoria e de ajuda, não somente de seus bons e científicos analistas de desempenho. Não basta saber, é preciso saber fazer e observar bem, às vezes sem estar a pensar.

Quando nem a liturgia do cargo ele respeita https://bit.ly/2R8mIH7    




Nenhum comentário: