Gênios não ganham campeonatos sozinhos
Futebol
brasileiro se preocupou apenas em descobrir as exceções que resolveriam tudo
Tostão, Folha de S. Paulo
Uma
das razões de os treinadores brasileiros serem exageradamente criticados quando
perdem é o fato de que são excessivamente elogiados quando ganham. Equipes
perdem e ganham por dezenas de fatores, especialmente pelos erros e acertos dos
jogadores em momentos decisivos.
No domingo, o São Paulo venceu o Flamengo
por 4 a 1, graças ao pênalti perdido por Bruno Henrique quando o
jogo ainda estava 1 a 1, e porque foi brilhante na troca de passes desde o
goleiro e por alternar as estratégias de pressionar e de recuar para marcar,
formando duas linhas de quatro.
Na
segunda-feira, o Palmeiras, usando, principalmente, os contra-ataques velozes, ganhou do Atlético, por 3 a
0.
Dizem que o novo técnico do Palmeiras,
o português Abel Ferreira, gosta de pressionar e de sufocar o
adversário, como joga o Atlético. Será que vai mudar os planos?
Há várias
maneiras de vencer, desde que o planejamento seja bem executado. O Brasil,
desde os anos 1960, somente ganhou quando teve um bom conjunto. Na Copa de
1970, a poesia e a prosa brasileira venceram a prosa italiana.
Não foi
apenas a vitória da poesia, com disse, na época, o cineasta Pasolini, frase
bastante repetida nos últimos 50 anos. A lenda de que o Brasil ganhou e brilhou
somente porque tinha muitos craques e que não precisava de técnico fez mal ao
futebol brasileiro.
Depois do Mundial, progressivamente, os europeus, com menos habilidade que os
brasileiros, investiram no planejamento, dentro e fora de campo, na educação
geral e especializada, no aprendizado e no aprimoramento técnico e na execução
bem feita.
Já o Brasil
dormiu em berço esplêndido, como se aqui só tivessem craques. A preocupação era
apenas a de descobrir geniozinhos, as exceções que resolveriam tudo. Gênios não
ganham sozinhos. Se o Brasil depender demais de Neymar, não vai ganhar o
próximo Mundial.
Existe, no
Brasil, um grande número de jovens habilidosos, fantasistas, velozes, mas com
pouquíssima técnica. Foram pouco ajudados nas categorias de base, tratados como
futuros craques.
Confundem
técnica com habilidade. A técnica individual é a capacidade de executar bem os
fundamentos da posição, além de ter muita lucidez para fazer as escolhas
certas. A técnica coletiva é a capacidade de jogar e de ver o jogo, de perceber
tudo o que acontece a sua volta, de sentir as necessidades dos companheiros e
de ajudá-los. Assim, forma-se um ótimo conjunto.
Michael, do
Flamengo, é rápido, driblador, habilidoso, mas erra demais nos passes, nas
finalizações e nos cruzamentos. Foi pouco auxiliado nas categorias de base.
Ainda pode evoluir, mas já perdeu um longo tempo.
Vinicius
Junior é excelente jogador, já está na seleção e no Real Madrid, mas, se
tivesse uma ótima técnica, seria mais um fenômeno do futebol brasileiro. Tem
grandes dificuldades de jogar coletivamente.
Todos os
grandes craques possuem uma excepcional técnica, individual e coletiva. Mesmo
os mais habilidosos, artistas da bola, que costumavam dar show particular, como
Maradona, Garrincha, Ronaldinho Gaúcho e outros, tinham também excepcional
técnica.
Garrincha,
em uma fração de segundo, driblava e colocava a bola para o companheiro, nas
melhores condições de fazer o gol. Cristiano Ronaldo é pura técnica. Não
precisa de muita habilidade para ser um fenômeno. Messi une a fantasia, a
criatividade e a habilidade com uma grande técnica.
Não existe
arte nem artista sem uma magistral técnica.
Veja: Faz-se o que é possível
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