10 abril 2020

Crônica do futebol sem bola


O mundo do futebol está com a bola parada
Não se tratará aqui só dos bons batedores de falta. Mas da falta que o futebol faz
Juca Kfouri, Folha de S. Paulo

Não, não e não!
A rara leitora e o raro leitor jamais viveram tempos nem sequer parecidos. Nem eu, nem ninguém.
Abstinência assim de futebol, nunca, never, jamás, jamé, na pronúncia francesa, não na escrita.

Você dirá que durante as férias de dezembro/janeiro vive alguma coisa semelhante, mas, convenha, quem quiser ver jogos pelo mundo afora, vê. O Campeonato Inglês, o Alemão, o Italiano, o Francês, o Espanhol.
Vê até a Copinha, e como vê.
Aliás, em relação aos europeus, essa é a única vantagem de o calendário brasileiro não estar adequado ao deles, coisa que a CBF descarta como solução para a temporada interrompida pela pandemia.

E descarta com argumento esfarrapado, ao alegar a necessidade de obedecer as datas da Libertadores.
Ora!
Advirta a Conmebol sobre a emergência de adaptar as rodadas ou então não haverá times brasileiros no torneio continental e duvideodó que a entidade não trate de mudá-las.
Até porque na Argentina, no Uruguai etc, já se joga sob o calendário mundial. A CBF que deixe de ser obtusa ou, ao menos, pare com justificativas falsas.
Voltemos à falta do futebol em nossas vidas. Certamente não é o problema a ser resolvido no momento, embora se fosse possível pensar no mundo da bola como um mundo à parte seria a melhor maneira de fazer o tempo passar.
A TV focaria no gramado, não mostraria uma cena das arquibancadas desertas, poria o som de torcidas no fundo e diria que as máscaras são um novo equipamento para proteger a leitura labial que os narradores adoram fazer e pronto!
Mas, não.
Como nem os cartolas sofrem da patologia que cega o ex-presidente em atividade em Brasília, ninguém tem a mais pálida ideia de quando a redonda voltará a rolar no Planeta Bola.
Ou será na Terra plana?
Fato é que aqui na terra não tão jogando futebol e só tem muito samba, muito choro e rock’n’ roll.

Nem aqui, nem na China.
Na China o que tem é lock’n loll, segundo o indecente ministro da deseducação.
O que nos resta é ir levando, vendo jogos antigos, apesar da emoção ficar congelada, ainda mais para quem os viu ao vivo.
Copa do Mundo de 1982, que o SporTV está mostrando, por exemplo.
Nesta quinta (9) passará Brasil 4, Nova Zelândia 0, no estádio Benito Villamarin, um show de bola.


Como recriar o clima da banda do navio-escola Custódio de Mello, atracado no porto de Sevilha, que tocava Aquarela do Brasil enquanto Falcão, Zico e Sócrates bailavam no gramado sob o sol das dez horas da noite na Andaluzia?
Impossível!
Mas vamos ao que pode, vamos ao que pode, para citar mais uma vez Chico Buarque, antes de apresentar seu Baioque num show sob a censura dos tempos da ditadura —pé de pato, mangalô, três vezes.
E o que pode é a Tragédia de Sarriá, no sábado (11).
A bola está parada e não tem Cláudio Christóvan de Pinho, nem Roberto Rivellino, nem Zenon, nem Neto, nem Marcelinho Carioca, para bater nela, colocada, como Cláudio e Zenon, com a força da “patada atômica” de Riva, ou de todos os jeitos como Neto e Marcelinho.
OK, não me acuse de clubismo. Faltam Didi, de “folha seca”, Zico, de qualquer jeito, Nelinho, extraordinário, Roberto Carlos, fabuloso, Juninho Pernambucano, magnífico, Rogério Ceni, meu Deus!, Marcos Assunção, rareiam os adjetivos e exclamações, Ronaldinho Gaúcho!
A bola está parada e nós batendo cabeças.

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