O
que move as placas tectônicas?
Luciano Siqueira
O movimento de placas tectônicas é uma
imagem recorrente que se tem utilizado para caracterizar alterações na
conjuntura política, quando em ritmo relativamente lento, porém consistente.
À semelhança das ditas cujas, que constituem a superfície
da Terra e sobre as quais se situam continentes e oceanos, e que se movem em
média 10 centímetros por ano.
Aqui e acolá, através de erupções vulcânicas e terremotos
– ou, num patamar mais elevado, tsunamis – as tectônicas traduzem o elevado
grau de tensão entre elas.
Também na cena política acontece algo parecido. Contradições
se acumulam, nem sempre visíveis ao observador afeito apenas à superfície, e
surgem mudanças bruscas de tendência.
Como no Brasil de agora.
Tendo como pano de fundo as crises sanitária e econômica,
que demandam iniciativas de grande envergadura e ousadia – bem longe do alcance
de um governo inepto e atabalhoado -, o presidente Jair Bolsonaro vê-se envolto
num imbróglio muito maior do que seu capital político acumulado pode dar conta.
Seu projeto político é tão perigosamente grave quanto
simplório: conduzir o País ao caos, ambiente que supõe possa lhe ser favorável
para uma aventura golpista. Daí jogar todas as suas fichas numa conduta absolutamente
inadequada diante da pandemia, na contramão do que se tem feito mundo afora; e
no estimulo à sua base social odiosa e radicalizada.
E pouco está se lixando para o dramático conflito que queima
na sala ao lado, entre a profissão de fé ultraliberal do seu ministro da
Economia, Paulo Guedes e equipe versus as necessidades prementes do Sistema
Único de Saúde e dos governos estaduais e prefeituras, das grandes massas
marginalizadas dependentes do trabalho informal, das médias e micro empresas
que respondem por 27% do PIB e do grande segmento produtivo que depende de
pesados investimentos públicos.
Em consequência, o presidente sofre crescente isolamento
político, que aumenta a cada dia tanto quanto vai às turras com o Congresso
Nacional, o STF e a grande mídia e alimenta contradições e escaramuças no
interior do próprio governo https://bit.ly/2KuIYaS .
Na esteira disso, a correlação de forças – que lhe era
amplamente favorável quando assumiu o governo há quinze meses – tende a se
inverter.
Entretanto, esse movimento não conta com energias
provenientes de uma ampla pressão popular (que existe apenas no quesito “insatisfação”
captado nas pesquisas de opinião), nem da ação articulada de forças de
oposição.
Ou seja, são as contradições no campo outrora unificado
em torno do governo o fator principal da gradativa alteração na correlação de
forças.
Se esta constatação dá a dimensão temporal do que pode
vir a acontecer, desautorizando avaliações precipitadas no sentido de um
desenlace em curtíssimo prazo, reforça a necessidade de um empenho convergente
de correntes políticas de base popular, tal como vem fazendo o PCdoB, de modo a
se inserirem no amplo movimento de salvação nacional https://bit.ly/2Ks0kFl que ganha corpo pela
iniciativa dos governadores e do Congresso.
Para isolar e enfraquecer o bolsonarismo e gerar
condições para a travessia a um novo pacto político e social.
Nenhum comentário:
Postar um comentário