Seleção de 94 não fascinou, mas era muito
forte no individual e no coletivo
Time
não agradou tanto porque jogou à moda inglesa da época, considerada retranca
Tostão, Folha de S. Paulo
Muitas pessoas, encantadas com a seleção de 1982, que perdeu,
costumam desvalorizar a de 1994, que ganhou, com
a intenção de enfatizar a teoria de que, muito mais importante que a vitória é
o fascínio que exerce uma equipe. Melhor ainda é ganhar e encantar.
A
seleção de 1994, dirigida por Parreira, não fascinou, mas era muito forte, no
individual e no coletivo. Não agradou tanto porque jogou à moda inglesa da
época, com duas rígidas linhas de quatro, recuadas, e dois atacantes. Nenhuma
equipe do Brasil jogava dessa forma. Era considerado uma retranca.
Como
os dois volantes atuavam muito atrás e os dois meias muito abertos, com funções
defensivas, os atacantes Bebeto e Romário ficavam isolados. Mesmo assim, brilhavam.
A
Globo transmite a final contra a Itália neste domingo (26), às 16h.
O time dependia muito dos contra-ataques e das estocadas. Por
outro lado, até hoje, essa é a maneira defensiva de jogar mais eficiente, pois
os quatro defensores são protegidos por quatro jogadores de meio-campo.
O
Boca Juniors, dirigido por Carlos Bianchi na época, ganhou vários jogos
decisivos no Brasil, pela Libertadores, atuando dessa forma, no contra-ataque.
O
Corinthians, dirigido por Mano Menezes, Tite e Carille, ganhou vários títulos.
O Atlético de Madrid, com Simeone, se destaca pelo sistema defensivo, também
com duas linhas de quatro.
No
Mundial de 2006, Parreira repetiu a formação tática, e não deu certo, porque
escalou pelos lados dois dos melhores jogadores do mundo, Kaká e Ronaldinho
Gaúcho, que também tinham funções defensivas. Os dois brilhavam intensamente em
seus clubes por jogarem perto do gol.
O
mesmo ocorreu no Mundial de 1994, com Raí, pela direita. Ele não tinha
velocidade para marcar e atacar e acabou sendo substituído por Mazinho. Raí era
brilhante da intermediária para o gol.
Na
Copa de 1994, após ficar mais de 20 anos fora do futebol, recebi um convite da
TV Bandeirantes para participar da cobertura do Mundial nos Estados Unidos.
Aceitei, para minha surpresa.
Fiquei
40 dias em Dallas, onde estava o centro de imprensa. Convivi, diariamente, com
o mestre Armando Nogueira. No hotel, encontrava, com frequência, meu ídolo
literário, João Ubaldo.
Passava
o dia no centro de imprensa, onde assistia a todas as partidas da Copa, pela
televisão, dava entrevistas, fazia comentários e participava, todas as noites,
de uma mesa redonda. Gérson e Rivellino trabalhavam também na emissora, mas
ficavam em San Francisco, onde treinava a seleção brasileira.
Diverti-me bastante no Mundial.
Um
dia, comia um lanche, no centro de imprensa, quando se aproximou um senhor mais
velho. Pediu licença para sentar-se ao meu lado e se apresentou: “Sou Di
Stefano”.
Quase
caí da cadeira. Era meu ídolo e o de meu pai, um dos maiores da história. Meu
pai falava que Pelé era o rei do futebol, mas que Di Stefano era o único que
brilhava de uma área à outra.
Vi
apenas um jogo do Brasil no estádio, em Dallas, contra a Holanda, na vitória
por 3 a 2, pelas quartas de final. Romário fez um magistral gol.
Encontrei,
após 24 anos, desde a Copa de 1970, Gérson e Rivellino, dois grandes
companheiros.
A
seleção de 1994 tinha um dos melhores centroavantes da história (Romário) e
mais um elenco de excelentes jogadores. Além disso, foi extremamente
competitiva, coletiva, ao executar bem o que foi planejado.
Em
qualquer atividade, não basta ter ótimo conhecimento, boas ideias e ser
criativo. É preciso executar bem, saber fazer.
Nenhum comentário:
Postar um comentário