Um
gesto expressivo das reais necessidades da nação e do nosso povo, uma atitude
afirmativa e unitária. Em manifesto à nação, Dom Walmor Oliveira de Azevedo,
presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil - CNBB Felipe Santa
Cruz, presidente da Ordem dos Advogados do Brasil - OAB José Carlos Dias,
presidente da Comissão de Defesa dos Direitos Humanos Dom Paulo Evaristo Arns -
Comissão Arns Luiz Davidovich, presidente da Academia Brasileira de Ciências -
ABC Paulo Jeronimo de Sousa, presidente da Associação Brasileira de Imprensa -
ABI Ildeu de Castro Moreira, presidente da Sociedade Brasileira para o
Progresso da Ciência – SBPC dão o sentido e o tom da resistência em defesa da
vida e do Brasil.
PACTO PELA VIDA E
PELO BRASIL
Cidadãos brasileiros, mulheres
e homens de boa-vontade, mais uma vez, conclamamos a todos: O Brasil vive uma
grave crise – sanitária, econômica, social e política -- exigindo de todos,
especialmente de governantes e representantes do povo, o exercício de uma
cidadania guiada pelos princípios da solidariedade e da dignidade humana,
assentada no diálogo maduro, corresponsável, na busca de soluções conjuntas
para o bem comum, particularmente dos mais pobres e vulneráveis. O momento que
estamos enfrentando clama pela união de toda a sociedade brasileira, para a
qual nos dirigimos aqui. O desafio é imenso: a humanidade está sendo colocada à
prova. A vida humana está em risco.
A pandemia do novo coronavírus
se espalha pelo Brasil exigindo a disciplina do isolamento social, com a
superação de medos e incertezas. O isolamento se impõe como único meio de
desacelerar a transmissão do vírus e seu contágio, preservando a capacidade de
ação dos sistemas de saúde e dando tempo para a implementação de políticas
públicas de proteção social. Devemos, pois, repudiar discursos que desacreditem
a eficácia dessa estratégia, colocando em risco a saúde e sobrevivência do povo
brasileiro. Em contrapartida, devemos apoiar e seguir as orientações dos organismos
nacionais de saúde, como o Ministério da Saúde, e dos internacionais, a começar
pela Organização Mundial de Saúde - OMS.
Os países democráticos
atingidos pelo COVID-19 estão construindo agendas e políticas para combatê-lo
de maneira própria, segundo suas características, mas, todos, sem exceção, na
colaboração estreita entre sociedade civil e classe política, entre agentes
econômicos, pesquisadores e empreendedores, convencidos de que a conjugação de
crise epidemiológica e crise econômica assume tal magnitude, que só um amplo
diálogo pode levar à sua resolução. É hora de entrar em cena no Brasil o coro
dos lúcidos, fazendo valer a opção por escolhas científicas, políticas e
modelos sociais que coloquem o mundo e a nossa sociedade em um tempo, de fato, novo.
Nossa sociedade civil espera, e
tem o direito de exigir, que o Governo Federal seja promotor desse diálogo,
presidindo o processo de grandes e urgentes mudanças em harmonia com os poderes
da República, ultrapassando a insensatez das provocações e dos personalismos,
para se ater aos princípios e aos valores sacramentados na Constituição de
1988. Cabe lembrar que a árdua tarefa de combate à pandemia é dever de todos,
com a participação de todos -- no caso do Governo Federal, em articulada
cooperação com os governos dos Estados e Municípios e em conexão estreita com
as nossas instituições.
A hora é grave e clama por
liderança ética, arrojada, humanística, que ecoe um pacto firmado por toda a
sociedade, como compromisso e bússola para a superação da crise atual. Como em
outras pandemias, sabemos que a atual só agravará o quadro de exclusão social
no Brasil. Associada às precárias condições de saneamento, moradia, renda e
acesso a serviços públicos, a histórica desigualdade em nosso país torna a
pandemia do novo coronavírus ainda mais cruel para brasileiros submetidos a
privações. Por isso, hoje nos unimos para conclamar que todos os esforços,
públicos e privados, sejam envidados para que ninguém seja deixado para trás
nesta difícil travessia.
Não é justo jogar o ônus da
imensa crise nos ombros dos mais pobres e dos trabalhadores. O princípio da
dignidade humana impõe a todos e, sobretudo, ao Estado, o dever de dar absoluta
prioridade às populações de rua, aos moradores de comunidades carentes, aos
idosos, aos povos indígenas, à população prisional e aos demais grupos em
situação de vulnerabilidade. Acrescente-se ao princípio da dignidade humana, o
princípio da solidariedade – só assim iremos na direção de uma sociedade mais
justa, sustentável e fraterna.
É fundamental que o Estado
Brasileiro adote políticas claras para garantir a saúde do povo, bem como a
saúde de uma economia que se volte para o desenvolvimento integral, preservando
emprego, renda e trabalho. Em tempos de calamidade pública, tornam-se inadiáveis
a atualização e ampliação do Bolsa Família; a rápida distribuição dos
benefícios da Renda Básica Emergencial, já aprovada pelo Congresso Nacional e
sancionada pelo Executivo, bem como a sua extensão pelo tempo que for
necessário para a superação dos riscos de saúde e sobrevivência da população
mais pobre; a absorção de parte dos salários do setor produtivo pelo Estado; a
ampliação de estímulos fiscais para doações filantrópicas ou assistenciais; a
criação do imposto sobre grandes fortunas, previsto na Constituição Federal e
em análise no Congresso Nacional; a liberação antecipada dos precatórios; a
capitalização de pequenas e médias empresas; o estímulo à inovação; o
remanejamento de verbas públicas para a saúde e o controle epidemiológico; o
aporte de recursos emergenciais para o setor de ciência & tecnologia no
enfrentamento da pandemia; e o incremento geral da economia. São um conjunto de
soluções assertivas para salvaguardar a vida, sem paralisar a economia.
Ressalte-se aqui a importância
do Sistema Único de Saúde - SUS, mais uma vez confirmada, com seus milhares de
agentes arriscando as próprias vidas na linha de frente do combate à pandemia.
É necessário e inadiável um aumento significativo do orçamento para o setor: o
SUS é o instrumento que temos para garantir acesso universal a ações e serviços
para recuperação, proteção e promoção da saúde. Em face da expansão da pandemia
e de suas consequências, é imperioso que a condução da coisa pública seja
pautada pela mais absoluta transparência, apoiada na melhor ciência e
condicionada pelos princípios fundamentais da dignidade humana e da proteção da
vida. Reconhecemos que a saúde das pessoas e a capacidade produtiva do país são
fundamentais para o bem-estar de todos. Mas propugnamos, uma vez mais, a primazia
do trabalho sobre o capital, do humano sobre o financeiro, da solidariedade
sobre a competição.
É urgente a formação deste
Pacto pela Vida e pelo Brasil. Que ele seja abraçado por toda a sociedade
brasileira em sua diversidade, sua criatividade e sua potência vital. E que ele
fortaleça a nossa democracia, mantendo-nos irredutivelmente unidos. Não
deixaremos que nos roubem a esperança de um futuro melhor.
Dia Mundial da Saúde, 7 de
abril de 2020
Dom Walmor Oliveira de Azevedo,
presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil - CNBB Felipe Santa
Cruz, presidente da Ordem dos Advogados do Brasil - OAB José Carlos Dias,
presidente da Comissão de Defesa dos Direitos Humanos Dom Paulo Evaristo Arns -
Comissão Arns Luiz Davidovich, presidente da Academia Brasileira de Ciências -
ABC Paulo Jeronimo de Sousa, presidente da Associação Brasileira de Imprensa -
ABI Ildeu de Castro Moreira, presidente da Sociedade Brasileira para o
Progresso da Ciência – SBPC
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