19 setembro 2024

Minha opinião: peleja nacional

A disputa em São Paulo reflete o país* 
Luciano Siqueira  


Conforme o tratamento dado pelo complexo midiático dominante, a peleja eleitoral na capital de São Paulo é prioridade quase que absoluta. 


Em certa medida, faz sentido. 

Não apenas pelo festival de agressões e de afirmações desprovidas de fundamento protagonizado pelo outsider de extrema direita, Marçal, e a natureza da resposta que alguns lhe dão, mas principalmente pelo peso específico da metrópole na cena política do país. 

Retirando-se o glacê de mau gosto, é possível chegar ao conteúdo do bolo e, portanto, ter a dimensão exata da disputa. 

A começar pelo confronto entre a influência eleitoral do presidente Lula — que envolve a candidatura de Guilherme Boulos, e a do ex-presidente Bolsonaro, comprometido com o atual prefeito Ricardo Nunes. 

O desenho atual da disputa, considerado a partir das pesquisas feitas por alguns institutos, revela ligeiro desequilíbrio em favor das forças conservadoras e de direita, que uma possível aliança entre Guilherme Boulos e Tábata Amaral no segundo turno talvez não seja suficiente para superá-la. Ampliar um pouco mais será necessário. 

Essa desigualdade se reflete pelo país afora, ainda que as pesquisas indiquem vitória já no primeiro turno de dois candidatos do campo progressista, cujas cidades têm peso específico relevante: Eduardo Paes, no Rio de Janeiro e João Campos, no Recife.

O mapa dos resultados será, obviamente, importante indicativo da correlação de forças em plano nacional, no tempo imediato e na perspectiva das eleições gerais de 2026. 

Por agora, considerando a disputa nas principais capitais do país — a um exame atento, mas carente de profundidade — o debate em torno de uma cidade democrática e saudável como direito de todos tem ficado a segundo plano ou ausente.

Em alguns casos, candidatos colocados à esquerda e com larga vantagem nas intenções de voto (portanto abocanhando parcela expressiva do eleitorado conservador e simpático à direita) têm preferido "despolitizar" a campanha, limitando-a a questões administrativas imediatas.

Como tática meramente eleitoral, compreensível; mas prejudicial à elevação do nível de consciência política das maiorias, indispensável à continuidade da peleja pela reconstrução nacional liderada pelo governo Lula.


*Texto da minha coluna no portal Vermelho desta quinta-feira


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