“É a economia, estúpido!” não explica tudo no mundo
trumpista
Enio Lins
“DESDE A POSSE do presidente dos EUA, em 20 de janeiro,
bolsas americanas perderam quase US$ 8 trilhões, sendo metade desde 2 de abril,
quando foram anunciadas as tarifas recíprocas” – este é o bigode da
reportagem assinada por Renée Pereira, n’O Estadão, publicada há três dias, em
13 de abril.
SEGUE A ANALISTA d’O Estadão: “O bom humor do mercado
financeiro com o presidente americano Donald Trump durou pouco − mais
precisamente até sua posse, em 20 de janeiro. Desde então, a cada nova
declaração ou ameaça, as bolsas reagem negativamente, registrando quedas
significativas e perdas de bilhões de dólares. O auge da tensão entre os
investidores, no entanto, ocorreu em 2 de abril, quando Trump anunciou suas
tarifas recíprocas para 185 países. Só as bolsas americanas perderam mais de
US$ 4 trilhões desde então (no ano, as perdas somam quase US$ 8 trilhões),
segundo cálculos da consultoria Elos Ayta. No mercado brasileiro, a B3 encolheu
R$ 141,8 bilhões em valor de mercado entre 2 e 10 de abril (...). Aplausos
à colega.
MATÉRIA SOBEJAMENTE informativa, disponível no espaço internáutico.
Leia-a. Há de se avaliar, quando os dados se consolidarem, os efeitos dos
pinotes pra frente e pra trás dados por Donald na questão das tarifas aplicadas
e desaplicadas contra a China. Saltita tanto que lembra “Sebastiana”, cantada
por Jackson do Pandeiro: “Convidei a comadre Sebastiana/ Pra dançar um
xaxado na Paraíba/ Ela veio com uma dança diferente/ E pulava que nem uma
guariba”. Donald, o pato, virou um sapo. Mas, apesar de pular de ré sem medo
de ser infeliz, é um sapo que o mercado, apesar do mau humor, quer beijar na
boca (ou na bunda, como ele prefere) para vê-lo novamente príncipe. Trata-se de
uma questão ideológica visceral, encanto tão forte que nem grandes prejuízos
momentâneos conseguem quebrar para a maioria dos me rcados e além: a magia do
discurso capitalista mais animalesco, mais brutal.
NESTE TURBILHÃO FRENÉTICO de danos, sem dúvida, existe muita gente
que acha um mérito Trump ter bloqueado US$ 2 bi (dois bilhões de dólares) em verbas
para Havard, depois daquela instituição ter se negado a cumprir as exigências
retrógradas do presidente americano. Afinal, enxergar as universidades como
mero reduto de maconheiro não é mito exclusivamente brasileiro – é marca do
pensamento da extrema-direita universal. Outras tantas marcas perniciosas à
humanidade seguem vivas no imaginário mais reacionário (nos Estados Unidos, no
Brasil e no mundo), a espera, apenas, de algum sucesso econômico para se
alevantarem em furor, tal qual as multidões alemãs que erguiam seus braços em
riste na saudação “Heil Hitler!”.
TRUMP PRECISA SER COMBATIDO por suas ideias, e não por
eventualmente estar bagunçando a economia mundial. Crises econômicas globais,
bagunça nos mercados são características capitalistas próprias, intrínsecas;
existem naturalmente, independente de governos mais autoritários ou mais
democráticos. O busílis da questão é Donald defender o capitalismo sem qualquer
nuance social; retomar o imperialismo americano em sua forma mais troglodita;
combater o humanismo sob quaisquer entendimentos; impor às Universidades e ao
ensino em geral normas reacionárias; desdenhar toda preocupação com o
meio-ambiente; considerar o resto do mundo (e não apenas a América Latina) como
o quintal dos Estados Unidos; ser arauto da misoginia e da homofobia etc. – em
resumo, seu pensar (e agir) é a mais completa coleção de ideologias d esumanas,
argentárias, supremacistas. Ter sido eleito presidente da maior superpotência
mundial é o problema. É uma tragédia política internacional. Os tropeços
econômicos trumpistas são detalhes – importantes –, mas o drama é outro, noutro
patamar mais amplo e muito mais perigoso: as ideologias de extrema-direita
voltando a se espalhar pelo mundo.
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Leia também: A trincheira ainda é outra https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/03/minha-opiniao_19.html
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