20 abril 2025

Enio Lins opina

“É a economia, estúpido!” não explica tudo no mundo trumpista
Enio Lins 

“DESDE A POSSE do presidente dos EUA, em 20 de janeiro, bolsas americanas perderam quase US$ 8 trilhões, sendo metade desde 2 de abril, quando foram anunciadas as tarifas recíprocas” – este é o bigode da reportagem assinada por Renée Pereira, n’O Estadão, publicada há três dias, em 13 de abril.

SEGUE A ANALISTA d’O Estadão: “O bom humor do mercado financeiro com o presidente americano Donald Trump durou pouco − mais precisamente até sua posse, em 20 de janeiro. Desde então, a cada nova declaração ou ameaça, as bolsas reagem negativamente, registrando quedas significativas e perdas de bilhões de dólares. O auge da tensão entre os investidores, no entanto, ocorreu em 2 de abril, quando Trump anunciou suas tarifas recíprocas para 185 países. Só as bolsas americanas perderam mais de US$ 4 trilhões desde então (no ano, as perdas somam quase US$ 8 trilhões), segundo cálculos da consultoria Elos Ayta. No mercado brasileiro, a B3 encolheu R$ 141,8 bilhões em valor de mercado entre 2 e 10 de abril (...). Aplausos à colega.

MATÉRIA SOBEJAMENTE informativa, disponível no espaço internáutico. Leia-a. Há de se avaliar, quando os dados se consolidarem, os efeitos dos pinotes pra frente e pra trás dados por Donald na questão das tarifas aplicadas e desaplicadas contra a China. Saltita tanto que lembra “Sebastiana”, cantada por Jackson do Pandeiro: “Convidei a comadre Sebastiana/ Pra dançar um xaxado na Paraíba/ Ela veio com uma dança diferente/ E pulava que nem uma guariba”. Donald, o pato, virou um sapo. Mas, apesar de pular de ré sem medo de ser infeliz, é um sapo que o mercado, apesar do mau humor, quer beijar na boca (ou na bunda, como ele prefere) para vê-lo novamente príncipe. Trata-se de uma questão ideológica visceral, encanto tão forte que nem grandes prejuízos momentâneos conseguem quebrar para a maioria dos me rcados e além: a magia do discurso capitalista mais animalesco, mais brutal.

NESTE TURBILHÃO FRENÉTICO de danos, sem dúvida, existe muita gente que acha um mérito Trump ter bloqueado US$ 2 bi (dois bilhões de dólares) em verbas para Havard, depois daquela instituição ter se negado a cumprir as exigências retrógradas do presidente americano. Afinal, enxergar as universidades como mero reduto de maconheiro não é mito exclusivamente brasileiro – é marca do pensamento da extrema-direita universal. Outras tantas marcas perniciosas à humanidade seguem vivas no imaginário mais reacionário (nos Estados Unidos, no Brasil e no mundo), a espera, apenas, de algum sucesso econômico para se alevantarem em furor, tal qual as multidões alemãs que erguiam seus braços em riste na saudação “Heil Hitler!”.

TRUMP PRECISA SER COMBATIDO por suas ideias, e não por eventualmente estar bagunçando a economia mundial. Crises econômicas globais, bagunça nos mercados são características capitalistas próprias, intrínsecas; existem naturalmente, independente de governos mais autoritários ou mais democráticos. O busílis da questão é Donald defender o capitalismo sem qualquer nuance social; retomar o imperialismo americano em sua forma mais troglodita; combater o humanismo sob quaisquer entendimentos; impor às Universidades e ao ensino em geral normas reacionárias; desdenhar toda preocupação com o meio-ambiente; considerar o resto do mundo (e não apenas a América Latina) como o quintal dos Estados Unidos; ser arauto da misoginia e da homofobia etc. – em resumo, seu pensar (e agir) é a mais completa coleção de ideologias d esumanas, argentárias, supremacistas. Ter sido eleito presidente da maior superpotência mundial é o problema. É uma tragédia política internacional. Os tropeços econômicos trumpistas são detalhes – importantes –, mas o drama é outro, noutro patamar mais amplo e muito mais perigoso: as ideologias de extrema-direita voltando a se espalhar pelo mundo.

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