A Sexta-feira Santa ontem e hoje
Luciano
Siqueira
instagram.com/lucianosiqueira65
Em tempo de comunicação cibernética, as informações nos chegam múltiplas e instantâneas. Busco notícias da cena política e encontro uma enxurrada de fatos de toda ordem. Dentre eles, alguns registros do que será esta Sexta-feira Santa.
Sim,
apenas algumas dicas quase perdidas em meio ao farto noticiário e em nada se
parece com o que acontecia na minha infância.
Fala-se
em praias, espetáculos teatrais e até shows de jazz. E como que para não
se cometer nenhum sacrilégio, também se anunciam atos
religiosos.
Naquele
tempo (estou falando obviamente do século passado), tudo funcionava como se de
fato estivesse acontecendo, em tempo real, o sacrifício de Jesus.
As
emissoras de rádio tocavam peças clássicas e dobrados entremeados, em alguns
horários supostamente solenes, pela leitura de textos religiosos.
Lá em
casa minha mãe, católica praticante, nos servia refeições frugais a base de
peixe. Carne, não. Nada que pudesse sugerir prazer. Doces, por exemplo, nem
pensar.
Como
experimentar algum prazer no exato dia em que Jesus Cristo era imolado para
redimir a Humanidade?
Então
ficávamos em casa meio que ociosos. E impacientes, cabe confessar.
Já no dia
seguinte, o sábado de aleluia, tinha até carnaval — para a alegria do meu irmão
mais velho, Humberto, que não perdia o baile do Aeroclube.
A memória
não me traz nenhum prazer, antes a sensação de que éramos reprimidos em nome de
valores religiosos que não compreendíamos. Privados até de jogar futebol no
quintal.
Mas hoje
confesso experimentar um laivo de nostalgia.
Saudade
do tempo em que ainda se parava para pensar, mesmo quando o ritual nos parecia
incompreensível.
Hoje tudo
é acelerado. Imagino até para quem professa fé religiosa.
Orações
se compartilham pelo WhatsApp e nas redes. Às vezes com ilustrações de mau
gosto.
Também
nos templos — para alguns, considerando o universo de quase 220 milhões
brasileiros e brasileiras.
Enquanto
isso, tudo segue dentro da normalidade vigente: a programação da TV, das rádios,
sites, podcasts e canais diversos é como se fosse ontem ou já fosse
amanhã.
Nada
muda, como nas últimas décadas.
Pois a
Semana Santa, para a imensa maioria, tem mais um quê de feriadão, mais lazer do
que fervor espiritual.
Da minha
parte, torço para que de hoje até domingo faça sol porque o que eu quero mesmo
é caminhar na praia, ler crônicas e poesias, jogar conversa fora e beber uma
coisinha, que ninguém é de ferro...
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Leia 'A festa', poema de Cida Pedrosa https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/04/palavra-de-poeta_20.html
Um comentário:
Sim, td isso era feito, e, fato! Para além de outras coisas as grandiosas radiolas tocavam músicas sacras, e éramos proibidos chamar palavrões!
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