Na
política, morre pela boca quem quer
Luciano
Siqueira
instagram.com/lucianosiqueira65
Morre não, só se quiser. Assim como em boca
fechada não entra mosquito. Pelo menos é o que ensina a sabedoria popular.
Essas expressões têm vindo à tona nos meios
políticos em razão da incontinência verbal de alguns, como o ex-ministro Nelson
Jobim, que soa como se o falante desejasse provocar determinado desfecho para
situação incômoda. Ou, em outros casos, para dissimular a dúvida e a indecisão.
Jobim disse tanta coisa inconveniente e
desnecessária, e deselegante, que a presidenta Dilma não teria outra
alternativa senão demiti-lo. Coisas que a um ministro de Estado não está
facultado dizer – muito menos em público. Depreciativas em relação ao governo a
que servia.
Político experiente, ex-deputado, ministro
por duas vezes, ministro aposentado do Superior Tribunal Federal, por que terá
optado por um caminho tão desgastante para se afastar do governo? Muito mais
simples seria pedir demissão, e pronto.
Miguel Arraes era justamente o contrário:
absolutamente comedido em suas declarações, acautelado até em demasia. Quando
da campanha presidencial de 1989, no segundo turno, articulamos um encontro
dele com Lula, com todos os cuidados que a resistência do PT local impunha à
época. Na véspera, esteve com o governador o deputado Plinio de Arruda Sampaio,
então líder petista na Câmara.
Pois bem. Dia seguinte, nos reunimos (os
dirigentes da Frente Brasil Popular em Pernambuco) com o nosso candidato à
presidência da República para preparar a conversa com Arraes. Lula de pronto
indagou a Plínio: “- Como foi a audiência com o governador?” Ao que Plínio,
entre tímido e constrangido, respondeu: “- Não tenho certeza, mas acho que foi
boa. Ele me ouviu o tempo todo. Falou muito pouco e quando falou, não ouvi
direito por causa do barulho do ar condicionado. Mas de vez em quando ele fazia
um sorriso...”.
Ou seja: jamais seria pela palavra mal posta
que Arraes se comprometeria, antes cultivava certo mistério, bem a seu jeito
ladino.
Mas hoje, tal como Jobim, não são poucos os
que exageram na loquacidade. E quando se trata de dissimular algo, pior a
emenda do que o soneto. Revela indecisão, fragilidade, inconsequência. E uma
canhestra incapacidade de construir soluções consistentes.
Longe do autor dessas linhas (sempre solícito
diante de repórteres e colunistas) a intenção de deitar regra para quem quer
que seja. Mas o comentário me parece oportuno, num tempo em que o método declaratório
de fazer política muitas vezes se sobrepõe à busca real de entendimento e de
solução para os problemas postos na ordem do dia. Que não leva a nada – a não
ser a desenlaces indesejáveis ou a mal-entendidos que custa corrigir.
[Crônica originalmente publicada em agosto de
2011]
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Leia também: O lugar do PCdoB na frente ampla https://lucianosiqueira.blogspot.com/2023/03/minha-opiniao_16.html
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