24 outubro 2007

Nosso artigo de toda quarta-feira no Blog de Jamildo (ex-Blog do JC)

O etanol, o Brasil e o Banco Mundial

Desde a sexta-feira passada, quando divulgou em Washington, EUA, o Relatório sobre Desenvolvimento Mundial 2008 – Agricultura para o Desenvolvimento, o Banco Mundial (Bird) vem afirmando que, a despeito de contribuir na diminuição das mudanças climáticas e da dependência de combustíveis fósseis, o biocombustível pode também causar aumento no preço dos alimentos, no desmatamento das florestas e na disputa por terra e água.

Isso já vinha sendo dito por organizações ambientalistas, e pode valer para certas áreas do Planeta, como os EUA que produzem etanol a partir do milho; mas não vale para o Brasil.

O documento assinala que o nosso país é o “maior e mais eficiente” produtor mundial de álcool combustível (etanol) derivado da cana de açúcar. De um total de 40 bilhões de litros produzidos em 2006, 42% vieram do Brasil, 46% dos Estados Unidos - que usam prioritariamente o milho - e 4% da União Européia.

Como se sabe, a produção de biocombustíveis é um dos pilares de atual política energética do governo federal.

O documento, tomado em seu sentido mais geral, deve ser levado em conta. Mas, de certa maneira, pode estimular opiniões equivocadas que circulam cá entre nós. Por isso é oportuno que seja lido cotejando-o com estudos que demonstram que aqui a situação é outra.

Por exemplo: em artigo de alguns meses atrás na Folha de S. Paulo, o renomado cientista Rogério Cézar Cerqueira Leite caracterizou como uma “extrema eco-paranóia” o temor de expulsão do cultivo de alimentos e incremento da fome pela ocupação de parte de nossas terras disponíveis para a produção de etanol.

Ele argumenta que a atual produção brasileira - 17 bilhões de litros de álcool - ocupa apenas 3 milhões de hectares (outros 3 milhões para o açúcar). Excluindo as terras com atividade agrícola e toda área ocupada por floresta ou ambientalmente sensível, o país dispõe de 300 milhões de hectares de solo com qualidade e pluviometria adequadas para o cultivo da cana. Se multiplicarmos por dez a produção atual, não seriam ocupadas senão 10% das terras. Entretanto, diz ele, com a adoção das melhores tecnologias já em uso ou em estado de desenvolvimento avançado, esse percentual pode ser reduzido para entre 3 e 5%.
Demais, “a cada unidade de combustível fóssil despendida com a produção de álcool, 8 e meia unidades de gasolina deixarão de ser queimados”, a que se deve acrescentar que “uma expansão da produção do etanol só pode gerar emprego e aumentar salários”.

Oxalá as palavras de Rogério Cézar Cerqueira Leite não sejam abafadas por uma leitura mecanicista do relatório do Banco Mundial.

Um comentário:

MAIS VIDA MAIS SAÚDE disse...

Ilustre Luciano Siqueira,

Excelente seu artigo - O ETANOL, O BRASIL E O BANCO MUNDIAL.

É importantíssimo que este artigo tenha uma divulgação muito ampla.

Atenciosamente,
Ivanildo Batista Marinho