Mulheres negras: dupla discriminação
Luciano Siqueira
Um povo novo e original, como caracterizou Darcy Ribeiro, produto principalmente de três vertentes das quais só temos motivos para nos orgulhar: índios, negros e brancos oriundos de Portugal e de outras partes da Europa.
Uma sociedade, entretanto, que ainda não aprendeu a conviver com as diferenças e persiste na prática de formas abertas ou veladas de discriminação.
Dados recentes da Relação Anual de Informação Social (Rais), do Ministério do Trabalho indicam a incidência de dupla forma de discriminação: a de gênero e a racial, sob o ponto de vista do salário e do número de vagas ocupadas no mercado de trabalho pela mulher negra.
No mercado formal, o salário médio da mulher negra corresponde a menos da metade do salário de um homem branco. A mulher negra ganha, em média, R$ 790 e o salário do homem branco chegam a R$ 1.671,00. Quanto ao número de postos de trabalho ocupados, a discriminação também é evidente: são 498.521 empregos formais de mulheres negras contra 7,6 milhões de mulheres brancas e 11,9 milhões de homens brancos.
O que o corre no mundo do trabalho também se reflete na esfera política , onde a assimetria entre homens e mulheres em postos e funções relevantes, que é muito grande, mostra-se mais acentuada ainda quando se trata da presença da mulher negra.
Eis uma distorção que não se resolve apenas com discurso. Necessita de ampla consciência social a respeito, de políticas públicas específicas e de atenção dos partidos políticos comprometidos com a causa popular, que devem conferir maior ênfase à formação e à promoção das mulheres – as negras inclusive.
Um dos partidos atuantes no país – o PCdoB – dá a essa questão status programático e a consigna também como diretriz de sua construção política, ideológica e organizativa. Ao lado da luta cotidiana contra toda forma de discriminação – notadamente degenero e racial -, procura ampliar as possibilidades de ascendência da militância feminina nas instâncias de direção.
Que outros partidos assim também ajam e que nas mais diversas esferas da vida social se tenha consciência de que é preciso vencer essa forma de desigualdade e de discriminação por se tratar de obstáculo ao processo civilizatório brasileiro.
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