28 outubro 2010

Minha coluna semanal no portal Vermelho

Último round, domingo

Luciano Siqueira


Em nada surpreende, nesses dias derradeiros, o teor dos comentários que se multiplicam na grande mídia, da lavra de articulistas quase todos militantes da candidatura Serra. Varia o mote, mas todos especulam sobre o que poderia ainda ameaçar a vitória da ex-ministra Dilma: uma nova denúncia, o debate da Globo ou, quem sabe, uma surpresa na última rodada de pesquisas. Ou ainda a abstenção por causa do feriadão que se estende até a terça de Finados.

(É bom que se anote que o povão (onde Dilma é mais forte) é legalista e não gosta de pagar multas, por isso deve comparecer às seções eleitorais; enquanto a chamada classe média sulista (em que se apoia parte substancial dos índices pró-Serra) deixa de votar numa boa e depois se acerta com a Justiça eleitoral.)

Ora, ninguém desconhece que três dias têm lá seu significado em eleições brasileiras sempre bafejadas por alguma imponderabilidade. Mas, pés no chão, melhor é considerar a pequeníssima probabilidade de uma inversão na tendência do eleitorado, de última hora. Isto porque – como já se observou nas diversas fases da campanha, desde o primeiro turno – os fatores determinantes da preferência majoritária do eleitorado se assentam em bases objetivas, dizem respeito sobretudo ao impacto sobre a vida da maioria, em termos imediatos e em perspectiva, de um conjunto de políticas adotadas pelo atual governo. Daí a opção pela continuidade, ao invés da aventura de uma mudança de rumo.

Estima-se que 48% do eleitorado se encontra nos segmentos denominados C e D, justamente o mais beneficiado pelas mudanças encetadas pelo governo Lula e, por conseguinte, mais apegado à ideia da continuidade – e que tem grande influência sobre o conjunto dos eleitores.

O que talvez obscureça um pouco essa verdade é a avalanche de expedientes artificiosos que têm conturbado a disputa sucessória e até impedido, em grande medida, o esclarecedor debate de ideias. Ora se focou a diferenciação entre os dois candidatos finalistas em supostos atributos pessoais, ora no grau de experiência eleitoral de cada um; ora em torno de questões que, embora de alguma relevância, estão muito longe de se porem como crivo diante do eleitorado, como a legislação relativa ao aborto ou o nível de adesão à fé cristã. As coisas se embaralharam a ponto de se polemizar sobre o alcance danoso de um bola de papel (ou rolo de adesivo) atirado irresponsavelmente contra a careca do candidato do PSDB!

A prova dos nove acontecerá domingo, após o debate da Globo e em pleno feriadão ensolarado. Findo o último round, aos analistas sempre dispostos a distorcer a realidade só restará afiar os punhais para o inevitável terceiro turno a se iniciar antes mesmo da posse da presidenta Dilma. Veremos.

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