Dia 28: duas versões
Luciano Siqueira, no Blog da Folha
Sempre e invariavelmente se constroem narrativas distintas diante de fatos políticos relevantes. É a própria expressão, no terreno das ideias, da luta que se trava na sociedade.
Luciano Siqueira, no Blog da Folha
Sempre e invariavelmente se constroem narrativas distintas diante de fatos políticos relevantes. É a própria expressão, no terreno das ideias, da luta que se trava na sociedade.
Mas
ainda ocorre em tempo de crise e conflito político acirrado — como no Brasil de
agora.
A greve
geral e as manifestações públicas acontecidas dia 28 último, qualquer que seja
o ponto de vista crítico que se exerça sobre elas, emergem como fato novo
relevante na cena política.
Tanto que
circulou na mídia a informação de que no Palácio do Planalto se trabalharia com
duas versões, como vem acontecendo: intramuros, o reconhecimento do peso real
do movimento; em público, a subestimação de sua real dimensão.
Além
disso, o próprio Temer e comentaristas de TV e rádio e articulistas de jornais
cuidam de valorizar excessivamente alguns incidentes violentos — que não podem
ser subestimados, é verdade, especialmente o de Goiânia—, que nem de longe
deram a marca dos acontecimentos.
Os
incidentes violentos relatados decorreram principalmente da repressão policial
do que propriamente da ação de provocadores ou anarquistas infiltrados.
Ora,
fazia muito tempo que não se via em nosso país uma greve geral de fato, como
aconteceu. Além disso, há que se destacar a amplitude e a pluralidade do
movimento, que na convocação e realização envolveu segmentos para muito além do
próprio movimento sindical - reflexo do grau de isolamento do governo Temer e
da generalizada rejeição às reformas trabalhista e previdenciária — como as
próprias pesquisas de opinião vêm atestando.
Acrescente-se
que na esteira da greve geral, pela primeira vez todas as centrais sindicais,
ao celebrarem o Primeiro de Maio, ontem, convergiram para bandeiras unitárias, particularmente
a luta contra as duas reformas.
Cumpre
agora acompanhar em que medida a voz das ruas repercutirá no Congresso
Nacional, tanto na tramitação da reforma trabalhista no Senado como da reforma
previdenciária na Câmara dos Deputados, nos próximos dias.
Nesse contexto
e diante de tamanha evidência dos fatos, minimizar o movimento do dia 28 não
apenas é faltar com a verdade, como da parte dos governistas — incluindo seus
arautos da mídia — resulta em erro crasso de avaliação, quando não pura e
simples tergiversação.
O envolver
da cena política nacional é marcado, na atualidade, pela instabilidade e pela
imprevisibilidade. Tudo pode acontecer, inclusive um cenário novo em relação às
eleições presidenciais do ano vindouro, a depender da sincronia entre os
humores da sociedade e o comportamento dos atores políticos.
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