Para muito além dos detalhes
Luciano Siqueira, no Blog da Folha
Um companheiro de partido, militante há décadas, conserva até hoje o interesse por detalhes. Compreende a essência das coisas, mas não abre mais de aspectos secundários e até desprezíveis.
Luciano Siqueira, no Blog da Folha
Um companheiro de partido, militante há décadas, conserva até hoje o interesse por detalhes. Compreende a essência das coisas, mas não abre mais de aspectos secundários e até desprezíveis.
Certa vez, ao ouvir a informação
de que um membro da direção estadual do PCdoB faltaria a uma reunião em razão
do falecimento da avó, ergueu o braço e quis saber:
- Avó materna ou paterna?
De outra feita, ao me visitar em
minha residência, buscou detalhes sobre nosso pequeno apartamento que eu mesmo
não pude esclarecer:
- Quantos metros quadrados, qual a
dimensão dos cômodos, ano de construção, marca das torneiras da cozinha e assim
por diante.
Isto sem nenhuma intimidade com a
construção de residências, nem com instalações hidráulicas e muito menos com o
mercado imobiliário. Apenas pelo estranho prazer de se informar sobre detalhes.
Assistíamos na TV a uma partida
entre a seleção brasileira de futebol e a alemã e ele me inquiriu sobre a vida
pessoal do goleiro alemão, Sepp Maier - idade, estado civil, etc., como se eu
soubesse ou tivesse algum interesse nesses detalhes.
Mas o que lhe confere
originalidade é que essa obsessão pelo secundário jamais o desviou da
centralidade das coisas. Um mérito.
Hoje, vejo muita gente que se pensa
bem informada, mas pouco sabe além de meros fragmentos da realidade.
É a cultura das redes sociais, da
comunicação entre grupos afins fechados entre si.
Pois é claro que já não é
necessário acender fogueiras ou rufar tambores para que as pessoas se comuniquem.
Porém nas redes sociais, o
Facebook sobretudo, através de complexa manipulação de algoritmos, o usuário
termina confinado a grupos de "amigos" afins. Em consequência, o
diálogo com outras parcelas da sociedade fica prejudicado.
A grande mídia, bem sabemos, é
cada vez mais sofisticadamente seletiva: você vê, lê e ouve o que os
conglomerados de comunicação escolhem, distorcendo a realidade e lhe impondo um
consenso que interessa às elites dominantes.
E se você não se entusiasma por
buscar se informar de modo mais amplo e formar seu próprio juízo de valor, o
mundo gira e evolui e você nem sabe. Permanece envolvido nos fragmentos.
Para, além disso, devemos todos
buscar o que se costuma dizer "o que está por trás da notícia". Para muito além dos detalhes e da aparência,
em busca da essência.
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