Meus amigos na
varanda
Luciano Siqueira, no Blog
da Folha e no portal Vermelho
Costumo dizer que tenho um milhão de amigos —e isso me faz um bem enorme!
Costumo dizer que tenho um milhão de amigos —e isso me faz um bem enorme!
Inimigos pessoais não os tenho.
Pelo menos que eu saiba.
Alguns desafetos, certamente. Nas redes
sociais. Todos em razão das minhas posições políticas, quer dizer: gente que
não concorda comigo e que se deixa contaminar pelo vírus antidemocrático da
intolerância.
Estes se manifestam de vez em
quando. Agressivos, desrespeitosos, odientos. Mau humorados. Não querem
debater, limitam-se ao desaforo. Não tenho tempo sequer para me deter em suas
diatribes; os ignoro tranquilamente e os bloqueio.
Já os amigos e amigas me dão um enorme
prazer, inclusive quando me criticam e expressam opiniões diferentes das minhas.
Conservo boas amizades construídas
no curso da luta política, desde o movimento estudantil na década de 60 do
século passado, exatamente com pessoas de correntes políticas divergentes. Afinidades que perduram até hoje e que, paradoxalmente, brotaram em meio a
intensas polêmicas.
Essa é uma das razões da minha
profunda gratidão a duas entidades que me educaram assim: a minha mãe Oneide,
para quem desrespeitar a opinião do outro era “falta de caridade”; e ao PCdoB,
que forma seus militantes para a busca da unidade entre os diferentes.
Pois bem. Nessa matéria de
amizades prazerosas acrescento também uma penca de beija flores e canários da
terra, que visitam a varanda, a área de serviço e a janela do meu quarto, em meu
apartamento, onde encontram estrategicamente dependurados pequenos bebedouros
contendo uma garapa feita de água e mel.
Especialmente na varanda, onde me
quedo numa rede e alterno a leitura, o devaneio, o sonho e o sono.
Na rede, à noite, quando posso, às
vezes admiro a lua, outras vezes converso com as estrelas.
Durante o dia, bem cedinho, antes
de sair para a caminhada matinal, ou em momentos vespertinos do sábado ou
domingo (quando a agenda permite), meu diálogo é com eles, meus amigos beija
flores e canários da terra.
Falamos linguagens diferentes, é
verdade. Mas creio que nos entendemos muito bem. Eles bebem da água adoçada,
circulam pela varanda, pousam sobre os punhos da rede, emitem sons harmoniosos
e me olham com afetuosa curiosidade.
Eu os observo encantado e me
permito reminiscências de criança, quando imaginava o teor de conversas entre
os pássaros e atribuía papéis e “missões” aos muitos guerreiros do meu exército
de canários, pintassilgos, galos de campina, azulões...
Nunca fui inclinado a ter em casa
animais de estimação — cães, gatos e que tais. Por um período curto, quando na
clandestinidade, um pequeno cágado circulava pela casa.
Passarinhos, sim — porém
preferencialmente dessa forma como convivo com os beija flores e os canários da
terra: livres para virem até aqui quando necessitarem e sair quando quiserem,
jamais presos em gaiolas.
Da mesma forma como desejo que
vivam meus amigos e amigas: livres para sonhar, amar, pensar e lutar segundo suas
crenças e ideais. Sempre.
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