27 novembro 2022

Estranha Copa

Qatar, uma Copa exagerada

 Akram Belkaid, Le Monde Diplomatique

 

Em 2 de dezembro de 2010, em Zurique, o comitê executivo da Federação Internacional de Futebol (Fifa) escolheu o Quatar para organizar a Copa do Mundo de 2022. Em Doha, capital do emirado, houve uma explosão de alegria. As sirenes dos navios ulularam no porto, as buzinas dos carrões brilhantes estacionados na orla fizeram eco e a mídia local celebrou, em uníssono, o reconhecimento internacional que consagrava a entrada do país na corte dos grandes.

O emir Hamad bin Khalifa al-Thani, pai do atual soberano, que o sucedeu em 2013, exultou: agora, seu reino ficaria conhecido no mundo inteiro.


Imediatamente choveram críticas de todas as partes. Do lado esportivo, denunciou-se a aberração de organizar uma Copa do Mundo em um país desértico e quentíssimo, onde não existe paixão alguma pelo futebol. Ao mesmo tempo, os Estados Unidos, derrotados por 14 a 8 no pleito da Fifa – quando tinham certeza de que iam vencer –, gritaram que houve corrupção e compra de votos. Do lado político, ONGs alertaram para o caráter autoritário dessa opulenta petromonarquia, onde partidos políticos e sindicatos são proibidos.

Em seu relatório anual sobre a situação dos direitos humanos no Qatar (19 mar. 2011), a Anistia Internacional escreveu: “As mulheres são vítima de discriminação e violência. Os trabalhadores migrantes são explorados, maltratados e insuficientemente protegidos pela lei. Centenas de pessoas são arbitrariamente privadas de sua nacionalidade. Penas de flagelação são aplicadas. Condenações à morte continuam sendo proferidas, embora ainda não tenha havido nenhuma execução”. Não é preciso dizer mais.

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