Sonhar com os pés no chão
Luciano Siqueira
Revolucionários marxistas (entre os quais modestamente me incluo) apoiam suas ideias na realidade concreta, que buscam compreender e transformar.
Isto não quer dizer, entretanto, que revolucionário não sonha.
Sonha tanto quanto o nosso povo — que apesar de tamanho sofrimento nunca deixa de alimentar a esperança, mesmo quando aparenta não acreditar no futuro.
Recordo-me do velho camponês com quem conversei no Brejo da Madre de Deus, no agreste pernambucano, logo após a eleição de Miguel Arraes para o governo de Pernambuco, pela segunda vez, em 1986:
— A gente venceu, agora ele vai distribuir terra para quem precisa...
— Não é bem assim — retruquei. Arraes não prometeu isso na campanha.
— Não prometeu porque ele é muito sabido, não queria espantar os donos de terra.
Ali, o sonho suplantava em muito a realidade concreta. Como o governador de Pernambuco poderia realizar uma reforma agrária distributiva?
Isso é próprio do ser humano. Projeta para o futuro uma situação ideal bem além do possível e desse modo consegue mesclar o esforço concreto, assentado na realidade objetiva, e ao mesmo tempo alimenta o espírito.
Observando bem, para além da luta revolucionária e nos limites do cotidiano é assim que o ser humano se comporta. Pensa alto e faz o possível.
As dores do parto da História https://bit.ly/3Ye45TD
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