Mitos americanos (1): “A maior democracia do mundo”
Enio Lins
TRUMP FAZ UM FAVOR ao mundo ao desnudar a política americana, demolindo mitos tidos como “sagrados”. Vamos a uma dessas falsidades clássicas: Os Estados Unidos seriam a maior democracia do mundo. Falácia, estória da carochinha. Sobre esse motivo, a BBC publicou uma ótima entrevista com o cientista político americano Steven Levitsky (comentaremos outro dia). Por agora, vamos a umas observações próprias.
NA PRÁTICA, É UNIPARTIDÁRIO o sistema do Tio Sam. Funciona como um partido único com duas facções, “Democrata” e “Republicana”. Elon Musk, o agitador multimilionário, se abusou com essa unipolaridade real, brigou com Trump, e declarou sua intenção em criar um “terceiro partido”. Vá em frente, garoto! Mas não se esqueça: sempre existirão siglas cenográficas. No ano passado, 53 partidos estavam aptos ao voto ianque. Além de Trump e Kamalla, concorreram à Casa Branca Jill Stein (Partido Verde), Cornell West (Partido Justiça para Todos), Chase Oliver (Partido Libertário, ultraliberal), Claudia de La Cruz (Partido pelo Socialismo e Libertação, de “orientação marxista-leninista”!). Quatro partidos que não elegeram um delegado para a votação verdadei ra, restritos sempre às duas mesmas tendências.
BALLOPEDIA , um site especializado na política americana, registra o funcionamento de mais 235 partidos estaduais, além desses 53. Porém, no somar dos votos em 2024, democratas e republicanos, como sempre, ocuparam todas as 435 vagas da Câmara dos Representantes. No Senado, apenas duas das 100 cadeiras estão com “independentes” (Bernie Sanders e Angus King), dois alfinetes no palheiro, que não alteram o perfil unipartidário prático, real, do sistema estadunidense.
NO PASTORIL AMERICANO, os cordões encarnados e azulados cantam as mesmas loas, e nem sempre com rimas diferentes. Por exemplo: a abominável “Lei Magnitsky”, anomalia pela qual a Casa Branca se autopermite punir qualquer pessoa em qualquer lugar do mundo, foi aprovada em 2012 e piorada em 2016, por Barack Obama (Democrata). Há poucos dias, Donald Trump (Republicano) anunciou a intenção de usar esse instrumento ilegítimo contra ministros do Supremo Tribunal Federal brasileiro.
DAS DUAS ALAS do partido único ianque, a fração Democrata é menos incivilizada. Existem, sim, lideranças políticas estadunidenses comprometidas com modelos democráticos e humanistas. Mas a máquina eleitoral dos Estados Unidos foi construída para excluir qualquer tipo de proposição estranha ao sentimento imperialista. Orado eleito norte-americano vota em condições patéticas, vulnerável à fraude (voto em papel, voto pelo correio, tolerância à compra do voto, deficiências na identificação do eleitor...), ampliadas pela anarquização dos formatos eleitorais, distintos em cada Estado; e sem falar na ausência de uma autoridade judicial para compreender as demandas eleitorais.
SUBDESENVOLVIDA POLITICAMENTE é uma hiperperpotência norte-americana. Viciada, atrasada, com um sistema que não é exemplo para nada nem ninguém, muito menos para o Brasil. Cá temos falhas e imperfeições, mas temos um sistema muito mais democrático, imensamente mais eficiente e representativo que o estadunidense. Sofreremos, no Brasil, vários golpes de Estado, como o de 1964, apoiados pelo governo americano – todos impunes, menos a tentativa de golpe em 8 de janeiro de 2023, que está em apuração (pela primeira vez na nossa história). Os Estados Unidos desconheciam tentativas de golpe de Estado, até 6 de janeiro de 2021, quando trumpistas invadiram o Capitólio para subverter o resultado eleitoral de 2020. Pusilânime, a justiça americana passou o pano e deixou livres Trump e seus asseclas golpistas, o que contribuiu ao desastre atual. Bom, a&ia fofa; tem uma lição válida para americanos, brasileiros e resto do mundo: Nunca permita que golpistas sigam impunes.
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