O eterno desprezo sionista pelos acordos e pela paz
Décadas de cessar-fogos descumpridos revelam que, para Israel, a trégua é apenas uma pausa estratégica — nunca um caminho para a paz.
Sayid Marcos Tenório/Opera Mundi 
Mais uma vez, o mundo presencia um acordo de cessar-fogo entre Israel e a resistência palestina. E mais uma vez a história se repete. Enquanto alguns alimentam esperanças de reconstrução em Gaza, entre os palestinos predomina o ceticismo, sustentado por décadas de traições.
De fato, a história mostra que Israel jamais cumpriu os compromissos que assinou. Para a entidade sionista, cada trégua é apenas uma pausa tática, uma manobra diplomática para reorganizar a ocupação e preparar a próxima agressão.
O recente cessar-fogo não fugiu à regra: em poucos dias, o exército israelense, sob ordens de Benjamin Netanyahu, lançou ataques brutais contra a Faixa de Gaza, assassinando mais de cem palestinos, entre estes 52 crianças, 23 mulheres, 4 idosos e 7 pessoas com deficiência, sob a falsa alegação de que o Hamas teria atacado tropas israelenses.  
O Hamas negou as acusações e denunciou a violação como uma tentativa deliberada de sabotar o acordo. E denunciou que os atos sistemáticos de violação do cessar-fogo demonstram que a ocupação pratica uma política de assassinatos em massa como estratégia consistente, e não como incidente isolado.
Desde os Acordos de Oslo, em 1993, o contraste entre a boa-fé palestina e o desprezo israelense pelos compromissos é gritante. A Organização para a Libertação da Palestina (OLP) reconheceu o direito de Israel existir dentro das fronteiras de 1967, acreditando que o caminho da diplomacia poderia conduzir à paz.
Em troca, o que os palestinos receberam foram mais assentamentos ilegais, mais checkpoints, mais prisões e mais muros. A promessa de um Estado palestino em cinco anos nunca passou de uma fraude. Oslo, ao invés de libertar a Palestina, institucionalizou a ocupação.
Sob o comando de Benjamin Netanyahu, essa política de sabotagem alcançou seu auge. Nenhum outro líder israelense demonstrou tamanho desprezo pelo direito internacional e pela própria ideia de coexistência, assumindo sem disfarces o projeto de anexação permanente e de eliminação da Palestina como nação.
A cada cessar-fogo, Israel ganha tempo para rearmar-se, reconstruir seu aparato militar e planejar novas ofensivas, enquanto o mundo, cúmplice pelo silêncio, pede “moderação de ambas as partes” — como se houvesse simetria entre o colonizador e o colonizado.
Desde 1948, Israel vem violando sistematicamente as resoluções da ONU que exigem a retirada de seus exércitos dos territórios ocupados, o fim da colonização e o retorno dos refugiados. Ignora a Carta das Nações Unidas, a IV Convenção de Genebra e todos os acordos de cessar-fogo que assinou.
Seu desprezo pelos tratados não é acidental, mas estrutural: faz parte da lógica sionista de expansão e exclusão, que considera o território palestino como um espaço a ser purificado de seus habitantes originais.
Mesmo diante de tamanha opressão, o povo palestino não se curva. A cada bombardeio, uma nova geração se ergue, movida pela dignidade e pelo amor à terra. A resistência — política, cultural e armada — é a resposta legítima de um povo que se recusa a desaparecer.
 
Israel tenta converter cada acordo em instrumento de submissão, mas os palestinos transformam cada violação em prova de que sua luta é justa e inquebrantável. A resistência é, portanto, a continuidade da vida, a afirmação de que a Palestina existe e continuará existindo.
O desequilíbrio moral e político entre as partes é evidente: de um lado, um povo que luta por autodeterminação e cumpre seus compromissos; do outro, uma potência militar que vive da traição, da ocupação e da negação do outro. Cada cessar-fogo anunciado como esperança se revela uma farsa.
O discurso da paz serve apenas para legitimar o opressor e silenciar a vítima. A verdadeira paz não nascerá de acordos assinados por quem tem no descumprimento sua prática habitual, mas da derrota do sistema colonial que sustenta a entidade sionista.
Enquanto as bombas caem e os muros se erguem, o povo palestino segue reconstruindo sua pátria com as próprias mãos. Cada casa reconstruída, cada bandeira levantada sobre os escombros, é um ato de soberania, honra e coragem.
Mesmo com Gaza sitiada, a Cisjordânia esfacelada e Jerusalém Oriental sendo judaizada, povo palestino permanece firme. E é essa firmeza que mantém viva a causa da libertação. Porque, apesar das cercas, dos bloqueios e das bombas, a Palestina continua a existir na resistência de seu povo, e essa resistência é a resposta mais poderosa ao fracasso moral e político de Israel.
(*) Sayid Marcos Tenório é Historiador e Especialista em Relações Internacionais. É fundador e vice-presidente do Instituto Brasil-Palestina (Ibraspal). Autor dos livros Palestina: do mito da terra prometida à terra da resistência (2. Ed. Anita Garibaldi/Ibraspal, 2022). @soupalestina
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