Tal como nesse caso recente, que comentamos ontem, de um suposto constrangimento do presidente Lula por haver compartilhado o palanque em Brasília Teimosa com o ex-ministro Humberto Costa - veja A versão e o fato (1) – há situações outras em que determinada versão, plantada para servir a certos interesses, terminou se superpondo à verdade.
Em 1992, no período preparatório das eleições municipais no Recife, nós do PCdoB construímos paciente tessitura destinada a unir as forças de esquerda em torno da candidatura de Jarbas Vasconcelos a prefeito, incluindo na boa trama a reaproximação entre o próprio Jarbas e o ex-governador Miguel Arraes, vez que se encontravam afastados desde o pleito estadual de 1990, em que Joaquim Francisco (PFL) derrotou Jarbas (PMDB). Tudo parecia caminhar bem, quando no crucial momento de completar a chapa, eclodiu a ruptura entre Jarbas e Arraes, por iniciativa do primeiro, que sem consulta prévia resolveu anunciar o então deputado Sérgio Guerra como seu vice, em contraposição ao nome do também deputado Eduardo Campos, neto do ex-governador.
O argumento é que Arraes tentara dar um golpe, “impondo” o nome do seu neto. Nada mais falso. A idéia partiu justamente dos comunistas, enfrentando desde o primeiro momento resistências incisivas do próprio Arraes. (Em longa entrevista de página inteira concedida ao repórter Inaldo Sampaio, à época, no Jornal do Commercio, esclarecemos o assunto em detalhes). Mas ocorreu que Jarbas e seu grupo parecem ter visto ali a oportunidade da ruptura, numa situação eleitoral que lhe era favorável, deixando em dificuldades momentâneas o PSB de Arraes, o PCdoB e o PDT, que juntos participavam das articulações.
Rompeu de público de maneira solene e com declarações contundentes, cunhando com ampla receptividade por parte da mídia e ressonância na opinião pública, a versão distorcida de que Arraes desejava, com a indicação (sic), amarrar Jarbas à cadeira de prefeito de tal modo que não pudesse deixar o cargo dois anos após para uma eventual disputa do governo estadual.
Predominou a versão, o fato ficou obscurecido. E a história será quase sempre contada, também nesse caso, a partir da falsa versão.
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