No Diário de Pernambuco/Viver de hoje:
Primeiro curta de ficção de Tuca Siqueira é baseado em obra de Marcelino Freire
Jones Melo está sentado numa mesa repleta de utensílios que devem povoar o cotidiano de um escriturário: calhamaços, tesoura, pastas, lápis, carimbo. Na tarde de ontem, ele recortava pequenos pedaços de papel, observado pela lente de uma ágil câmera 24p, aquela que captura a imagem em digital com a mesma velocidade de uma máquina que filma em película. Jones, ou Samuel no set armado no Arquivo Público Estadual, no bairro de Santo Antônio, ouvia com atenção as instruções da diretora Tuca Siqueira, que neste fim de semana roda, ao lado de uma equipe de 25 pessoas, O caso da menina, sua primeira ficção.
Inspirado no conto pinçado de Angu de sangue, livro de contos do pernambucano Marcelino Freire, O caso da menina narra o encontro de um funcionário público, Samuel, e de uma menina de rua, Conceição, com um recém-nascido a tiracolo e uma proposta singular. Tuca conta que a obra de Freire, por ser ligada a conflitos urbanos, é algo que lhe é caro. "Para mim, qualquer conto dele pode ser transformado em filme. Nesse, eu percebi que havia uma liberdade muito grande dentro da escrita. O conto se resume a um diálogo, então havia espaço para eu transformar os personagens, para criar seus perfis. Não é uma adaptação do conto, é baseado nele", explica a jovem realizadora, que despontou no cenário audiovisual pernambucano com Homine (2003), documentário em que traçava um painel da identidade masculina urbana por meio de quatro personagens.Ontem, embora se tratasse de sua incursão de estréia no universo ficcional, Tuca parecia segura no set. Ora trocava idéias com o fotógrafo Altair Paixão, ora pedia uma alteração na luz ao veterano João Sagatio, responsável pelo maquinário de luz (e uma das figuras mais emblemáticas da produção local). No segundo andar do edifício da rua do Imperador, Jaqueline Carvalho, 21, moradora de Santo Amaro, assistia a tudo com atenção - até porque horas mais tarde ela encararia a câmera de vera pela primeira vez. Escolhida por Tuca depois de testes de leitura e de vídeo, e a partir de um contato prévio com quatro ONGs que trabalhassem com adolescentes de comunidades carentes, ela foi preparada pelo diretor Marcondes Lima (que, por coincidência, é responsável pela encenação de Angu de sangue).
"Tô aqui prestando atenção porque à noite vou gravar pela primeira vez. A gente ensaiou muito, mas dá um pouco de nervosismo, né?", comentava Jaqueline. Conceição, ela diz, situa-se no limite entre o desejo de entregar a criança e a vontade de permanecer com ela. O que acontecerá, ela sabe, mas não vai entregar. O caso da menina ganhou o incentivo municipal do SIC em 2005, no valor de R$ 32 mil, mas Tuca revela que eles só conseguiram aprovar R$ 19 mil e, de fato, só captaram R$ 15 mil. "Vamos montar em fevereiro e depois batalhar para fazer o transfer", aponta. Detalhes que adicionarão e muito ao curta, uma produção conjunta da Pixel com a D7: Oscar Malta (Seu Juca, Quando a maré encher) fará a edição e a trilha sonora está a cargo de Isaar. (Luciana Veras)
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