Na Revista Bravo!, por Anna Carolina Raposo:
Qual o destino dos livros depois da reforma ortográfica?
O novo acordo ortográfico dos países lusófonos trouxe, além da unificação da língua escrita, também algumas inquietações a editores e escritores: os livros que não ganharem reedições ficarão datados? Sofrerão desvalorização? O que fazer com os acervos bibliográficos?
. Caem tremas, hífens, acentos diferenciais e começam as preocupações de escritores, editores e educadores. Com o novo acordo ortográfico, uma grande quantidade de material editorial terá de ser revisada, substituída, descartada. Alterações que envolvem esforço e investimento. As editoras já prepararam novos exemplares dos livros didáticos e paradidáticos, incluindo os destinados à compra governamental. Mas o mesmo não aconteceu com a literatura adulta, sem cota prevista de vendas. O escritor Fernando Molica preocupa-se com um possível desaparecimento de títulos. Molica tem quatro livros publicados - o último deles, O Ponto da Partida, em 2008, ainda sob a ortografia antiga.
. O escritor prevê que, com as novas regras, os livros escritos na grafia antiga tenham uma vida útil de apenas dois anos. "Depois disso, quando o leitor já estiver habituado, a escrita velha vai causar um estranhamento, um desconforto". Ele questiona o que vai acontecer com os que não passam da primeira edição. "Temo uma retirada de catálogo, uma limpeza de estoque, e fico com muito medo da produção contemporânea brasileira sumir. A gente corre o risco de perder conteúdo", explica.
. Os editores não compartilham desse medo. Eles argumentam que o que determina a permanência ou não das obras no mercado é a demanda, e garantem que o sumiço está fora de questão.
. "Na verdade, o que comanda a reedição é o interesse do mercado, na medida em que o estoque acaba. O público é quem pede. Não vamos reeditar um livro com uma tiragem mínima de três mil cópias, mas que vendeu 800. Mas também não vamos retirá-lo do mercado", afirma Sérgio França, coordenador editorial da Editora Record.
. "Na verdade, o que comanda a reedição é o interesse do mercado, na medida em que o estoque acaba. O público é quem pede. Não vamos reeditar um livro com uma tiragem mínima de três mil cópias, mas que vendeu 800. Mas também não vamos retirá-lo do mercado", afirma Sérgio França, coordenador editorial da Editora Record.
Um comentário:
Camarada Luciano: Esta foi a minha grande preocupação desde o primeiro momento desta reforma.O Brasil já viveu várias reformas ortográficas desde o século passado - a que tirou o "th" e o "ph", a que reformulou a acentuação e a grafia, acrecentando a indicação de crase com o acento grave, acentuando proparoxítonas, e mais algumas alterações importantes - e finalmente esta última, com a alegação de que era necessário unificar a grafia das palavraas nos paises lusófonos. A primeira questão relevante e contrária a essa alegação, é que o que torna difícil o entendimento do português usado em outro paises, na verdade, não é a grafia mas a pronúncia - todos entendem Antônio ou Antóníno quando escrito. O difícil é o entender quando falado. Isto posto, parece=me inválida a argumentação inicial no que se refere ao entendimento. Por outro lado, a inutilização de bibliotecas é um fato de grande importãncia. No meu caso pessoal, por exemplo, recebi de meu pai uma biblioteca clássica com centenas de livros editados após a queda do "ph", mas editados antes da reforma de 1942 que, embora úteis, criaram-me grandes dificuldades - até hoje - pela dúvida que repentinamente aparece sobre qual a grafia correta. Os meus filhos, quando em processo de aprendizagem, não puderam usufruir dessa biblioteca devido às dificuldades que teriam posteriormente.
Por extenção, considerando a existência de centenas de livros em dezenas de milhares de pequenas bibliotecas, podemos as considerar como "bibliotecas perdidas" para a utilização prática.
Como vês não é apenas uma questão de aprender novas regras, mas a perda definitiva das obras que o poder capitalista julgar que nãos serão economicamente lucrativas nas suas reedições e um lucro significativo para as editoras naqueles títulos necessários ao estudo - prestação de vestibulares, concursos, etc.
A grande verdade é que, no que diz respeito à pronúncia, que, insisto, é o que dificulta o entendimento, não haverá nenhuma alteração: nós continuaremos a dizer Antônio, e os portugueses a dizer António.
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