14 fevereiro 2009

Lula e o povo

Queda da barreira de linguagem explica fenômeno Lula
Sérgio Augusto Silveira*
sergioaugusto_s@yahoo.com.br

Discutiu-se tanto neste país sobre os motivos da popularidade grande ou pequena dos governantes. Sempre se relevou motivações de caráter econômico, com medidas contra ou a favor do maior acesso aos bens produzidos. Claro que essas medidas têm seu papel importantíssimo na definição dos humores e disposição dos cidadãos diante dos governantes. No entanto, não são razões suficientes para que se explique o tamanho da popularidade do presidente, do governador ou do prefeito.

Na sua mais recente análise sobre a popularidade enorme do presidente Lula, o repórter especial da revista Época, Ricardo Amaral, faz um excelente apanhado das razões econômicas que explicam os 84 por cento de aprovação alcançados, segundo a última pesquisa Sensus/CNT. No entanto, ao nosso ver o entendimento dessa popularidade pode ser mais exato se considerarmos um fator comumente desprezado nesse campo. Trata-se das razões de linguagem.

A lingüística tem um papel determinante nas relações boas ou más entre o governante e governados. Ao notarmos que o presidente Lula não tem pejo em abrir a boca e empregar expressões usadas pelo mais simples dos sem teto ou dos sem terra deste país, vemos nisso um novo fator interferindo na nossa vida política: a democratização e total comunicabilidade do chefe de estado com a maioria.

Foi derrubada a tradicional barreira que prendia o mandatário num círculo de ferro imposto pelo elitismo do linguajar, fator de classe que sempre divorciou o governante em face daqueles que o elegeram. No passado, o Brasil teve uma experiência que chegou perto do rompimento dessa barreira. Foi quando o ditador e depois presidente eleito Getúlio Vargas foi ao encontro do operariado brasileiro, garantiu direitos e abriu o verbo toda vez que iniciava seu discurso: trabalhadores do Brasil!

Esse chamado chegou a quebrar a barreira da linguagem, principalmente depois que Getúlio legitimou-se no poder com o voto popular, em 1950. Foi um momento importantíssimo de nossa História no século passado. Os udenistas, seus adversários, viam nisso uma mera tática trabalhista para isolar a oposição. No entanto, agora vemos que se tratou de uma quebra de barreira de classe, capaz de liquidar com a tradição lingüística na política nacional.

Assim entendemos o que ocorre com o presidente Lula, só que num processo mais completo, na medida em que lembramos da origem social deste presidente. Origem que prevalece no momento em que ele escolhe a maneira de dizer o que pensa e o que se passa. Uma maneira totalmente descompromissada com a tradição elitista que mantinha o chefe de estado num altar inalcançável.

Pois bem, isso acabou, pelo menos ao longo do mandato deste presidente. A comunicabilidade entre Lula e o povão firmou-se mais do que nunca. E parece que não se trata apenas de uma marolinha.
*Jornalista

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