Quem não gosta do Bolsa Família?
Luciano Siqueira
Certa vez dois amigos radialistas tomavam um chope no Bar Savoy, no centro do Recife, por volta de meio-dia, quando foram abordados por um mendigo que pedia alguns centavos para comprar um pão. – “Não posso, amigo, se você comer um pão agora vai perder o apetite para o almoço”, respondeu o mais espirituoso (e cínico), provocando risos entre os presentes.
A piada de péssimo gosto e nenhum respeito para com o sofrimento do miserável, mutatis mutandis, como dizem os juristas, é mais ou menos o mesmo que andam dizendo oposicionistas nada sensíveis ao drama da população mais pobre.
No finzinho de janeiro o governo federal anunciou a elevação do teto da renda máxima por família atendida pelo Bolsa Família – de R$ 120 para R$ 137 – como uma correção inflacionária e a inclusão de mais 1,8 milhão de famílias no programa. De imediato parlamentares de oposição levantaram a voz em protesto com o argumento de que o programa é um instrumento que pode garantir a liquidez e o consumo nas camadas mais baixas, mas não é capaz de dar conta das pressões recessivas da economia. O benefício, segundo eles, apenas fomenta o consumo de curto prazo na medida em que os beneficiários encontram dificuldade de inserção imediata no mercado produtivo (subestimam o incremento das pequenas economias locais e desconhecem que quase 2 milhões de pessoas já conseguiram sair do programa desde a sua origem).
O mesmo que negar o pão ao faminto sob o pretexto de que assim ele se desmotivaria para degustar a refeição completa!
Nessa linha, o líder do Democratas no Senado, José Agripino, reclamou: “O investimento na questão social é meritório. Mas como um dia se corta R$ 37 bilhões e no dia seguinte se anuncia uma ação social? Estamos à beira de um processo recessivo, causa perplexidade e se impõe uma resposta à sociedade: o dinheiro vem de onde?”
Segundo ele, o governo estaria desperdiçando recursos públicos. Algo comparável aos milhões advindos da flexibilização do compulsório que beneficiou os bancos? Ou aos igualmente volumosos valores ofertados como socorro a grandes setores industriais em momentânea dificuldade? Nada disso. O Bolsa-Família paga para as famílias consideradas extremamente pobres um benefício fixo de R$ 95. E mais R$ 20 por criança entre 0 e 15 anos, em um limite de três por família, e mais R$ 30 por jovem de 16 e 17 anos, em um máximo de dois. O orçamento do Bolsa Família em 2009 está fixado em R$11,8 bilhões.
Moral da história: quando se trata de atender as necessidade dos mais pobres, não faltam argumentos técnicos supostamente zelosos dos recursos púbicos. Mas quando se trata de socorrer bancos e grandes empresas, tudo bem; nenhuma palavra contra.
Um comentário:
Adorei este artigo...mostra o pensamento da "cla$$e dominante". Certa vez, entrei numa discussão com uma amiga onde criticava a Gestão de João Paulo, pois falava das ruas emburacadas do espinheiro e casa forte. Mas lembrei a ela que essa gestão priorizava os mais necessitados e que estes, não utilizam carros e muito menos nestas áreas. Mas pedi a ela pra procurar ver as casas populares e alguns morros/altos da cidade, quantas mudanças significantes ocorreram...ela não acreditou mas porque nunca nem procurou sequer olhar para este lado "miserável"...como ums outra amiga diz...povinho "classe merda"...precisamos mudar essa sociedade...
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