Gastos públicos: nem tudo o que reluz é ouro
Luciano Siqueira
Certa vez um livreiro amigo comentou que vendia mais livros em momentos de crise do que em tempos de estabilidade. É que as pessoas procuram entender o que se passa, por isso cortam o restaurante no fim de semana, mas não abrem mão da boa e bem fundamentada informação.
Pena que esse comportamento esteja ainda restrito a parcelas diminutas dos leitores. A imensa maioria se informa mesmo é pelo noticiário das grandes mídias eletrônicas e impressas, em nosso país cada vez mais superficial e distorcido quando se trata de revelar a essência das coisas. Entre a notícia e a tomada de posição na luta política não há, para a grande imprensa, nenhuma fronteira. Sem subterfúgios.
A grita contra os gastos públicos é um bom exemplo. Mesmo quando se trata de investimentos em infraestrutura, indispensáveis ao bom desempenho da economia. Próceres oposicionistas, notadamente do PSDB e do DEM, repetem à exaustão o protesto contra todo e qualquer dispêndio anunciado pelo governo federal, como se corte e contingenciamento fossem a fórmula mágica para o enfrentamento das repercussões no Brasil da crise global.
É o momento de se dizer que nem tudo o que reluz é ouro: não é todo e qualquer gasto público que deve ser contido.
É o que fez o economista João Sicsú, do IPEA, ao trazer à luz, semana passada, constatações importantes sobre a matéria. “É possível enfrentar a crise mantendo ou ampliando os gastos do governo sem desorganizar as finanças públicas. Basta fazer algo que já está sendo feito pelo mundo inteiro: reduzir a taxa de juros”, asseverou.
Ele se baseia em rigorosa projeção a partir de sete cenários distintos, chegando à conclusão de que o melhor de todos seria a redução em 1% a taxa da Selic até setembro, e em outubro, reduzir em mais 0,75%. Daí resultaria uma taxa de 7% ao ano até outubro, contra os atuais 12,75% - correspondendo a uma economia fiscal de R$ 30 bilhões. Seria uma maneira contundente de arrostar os efeitos negativos da crise, mantendo inclusive o orçamento contábil das finanças públicas, garante. Por isso não seria sensato cortar gastos sociais nem gastos com investimentos, porque – assinala o estudo - estes são tipos de gastos públicos que têm efeitos multiplicadores consideravelmente altos. O que se gasta com o Bolsa Família e com a Previdência, por exemplo, possibilitam ampliação imediata do consumo, movimentando a economia.
Vale conferir as anotações do estudo coordenado por Sicsú – que infelizmente não mereceram espaço no noticiário centrado numa suposta inevitabilidade do desastre (e com isso talvez o renascimento das chances de vitória da oposição em 2010) e na repetição do dogma do Estado mínimo.
Um comentário:
Certo, mais do que certo o seu ponto de vista, Luciano. E boa a idéia de citar o estudo do IPEA que a imprensa nem vê.
Saudações,
Francisco Menelau
Postar um comentário