Superação do atraso não é simples e leva tempo
Luciano Siqueira
Publicado no Blog da Revista Algomais
Foram mais de duas décadas perdidas, em que a semiestagnação corroeu a capacidade produtiva e a competitividade da indústria. Um conjunto de variáveis atuou em favor do atraso, na esteira de uma gestão governamental comprometida e dependente do setor rentista e voltada para fora do país, em detrimento de nossas próprias potencialidades.
Mudar isso não é coisa simples, não se faz a base de decreto ou de impulso deste ou daquele governante. Os oito anos de Lula lançaram as bases para a alteração de rumo, a partir mesmo da formulação de uma política industrial de que o Brasil se fazia carente há não menos do que vinte anos. Esta, fundada na intervenção direta do Estado no processo produtivo; na oferta conscienciosa de incentivos fiscais; em investimentos em pesquisa e desenvolvimento (P&D); na ampliação de créditos subsidiados; na realização de parcerias público-privadas; e na criação de zonas francas e de processamento para exportação (ZPE).
Sob esse prisma devemos encarar a defasagem entre as necessidades e o ritmo em que nossa capacidade industrial é restaurada na atualidade.
Caso da indústria naval, cuja revitalização se impõe na proporção direta das possibilidades vislumbradas com a descoberta de petróleo e gás na camada do pré-sal. Reportagem da Folha de S. Paulo revela que parte substancial dessa demanda continua a ser suprida por fornecedores externos. De 22 plataformas encomendadas em quatro anos, apenas três estão sendo fabricadas integralmente no Brasil. Algo semelhante se dá com os planos de nacionalização em relação a sondas e navios de transporte.
Tudo bem que esse quadro gere inconformismo. E, por conseguinte, empenho do governo e dos demais atores envolvidos em apressar o processo de recuperação. O que não é nada simples, repita-se, uma vez que o que se procura fazer aqui não está dissociado do complexo jogo de forças e de interesses da economia global. Enquanto nossa indústria naval era levada à lona, movimento inverso se dava na Coreia, em Cingapura e na China, que agora colhem o que plantaram.
Demais, há fatores outros que incidem diretamente sobre a competitividade brasileira no setor, em sentido negativo – como o câmbio sobrevalorizado, por exemplo. Sinal claro de que o ambiente macroeconômico não ajuda, antes atrapalha o revigoramento da indústria brasileira, inclusive o setor naval.
Donde se pode concluir que o buraco continua mais embaixo: a tudo precede decisão política. Lula avançou nessa direção, mas não foi capaz ou não teve força para inverter a equação macroenômica. Dilma se elegeu com a promessa de avançar e deve saber que cambio sobrevalorizado e juros altos são obstáculos a serem removidos. Ou avançaremos, sim, mas a passos de tartaruga.
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