Luciano Siqueira
Reportagem do
Washington Post, conservador jornalão norte-americano, mereceu menção na
imprensa nacional, semana passada, por conter uma crítica ao modo brasileiro de
enfrentar a crise global. Segundo os gringos, o Brasil estaria fechando o
mercado e se inspirando na China.
Bom ou ruim? Para
eles, os norte-americanos, ruim; para nós, os brasileiros, bom. Eles reclamam
do aumento de tarifas de importação de peças automotivas, medida considerada
protecionista. Segundo a reportagem, melhor seria se seguíssemos os (maus)
exemplos do México e da Colômbia, que adotaram a abertura desejada pelos EUA.
Cá em nosso país tropical estaria havendo excessivo dirigismo estatal (sic).
Alheio ao desconforto veiculado no Post, o governo brasileiro, pela voz
do ministro da Fazenda, Guido Mantega, anuncia mais medidas destinadas a
estimular a produção e o consumo interno e as exportações. Não apenas a desoneração
da folha de pagamento da construção civil (recolhimento para a Previdência
Social de 2% sobre o faturamento, contra os 20% habituais), anunciada ontem; provavelmente
serão prorrogados o Reintegra e o Programa de Sustentação do Investimento
(PSI), previstos para se encerrarem no fim do ano.
As empresas de construção agora deverão recolher R$ 3
bilhões para o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) ao ano, ao invés dos
R$ 6 bilhões atuais.
O Reintegra possibilita que empresas exportadoras recebam
devolução automática de até 3% do valor da mercadoria referentes a tributos
federais cobrados ao longo da cadeia produtiva.
Através do PSI
(linha especial de crédito do BNDES), a compra de bens de capital (necessária
para a constante renovação da capacidade de produção) e investimentos em
pesquisa e inovação são estimuladas.
Mais: com a Medida Provisória específica, apesar das
resistências das empresas do setor, está garantida redução de 16,7% nas contas de energia para
unidades residenciais e empresas, a partir de fevereiro de 2013.
Moral da história: 1) não adianta, como antigamente,
sobretudo, na chamada “era FHC”, os barões de Wall Street ou o FMI gritarem de
lá na intenção de que o governo brasileiro obedeça cá: desde Lula o Brasil
preza sua soberania; 2) o Brasil, como a China e outros países emergentes,
destoam sim, dos EUA e da Europa, que adotam medidas austeras em favor do
sistema financeiro em detrimento da produção e do emprego, prolongando a crise
estrutural em que estão metidos, com gravíssimas repercussões sociais. Aqui se
faz o inverso, o Estado induz o crescimento e o consumo interno, empenha-se em
investimentos em infraestrutura e estimula a produção industrial. Não está
sendo fácil, mas é o caminho.
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