Luciano Siqueira
A tapioqueira parece se orgulhar do que faz, com destreza e esmero. Que nem um ourives a lapidar uma pedra preciosa.
A gente saboreia a tapioca – uma delícia! – aceitando aquelas palavras como uma lição. Importa, sim, realizar cada tarefa cotidiana com cuidado. Que nem o ourives – ou a tapioqueira ciosa do seu ofício. A gente aprende durante o trivial ato de comer tapioca no Alto da Sé, em Olinda.
Pena que nem todos os comensais se dão conta disso, a maioria com aquele
jeitão de turista apressado, que chega, olha em torno, consulta o guia, confere
as referências da igreja e a fotografa – na mais das vezes não é bem a igreja o
objeto da foto, mas os filhos, o pai, a mãe ou o casal. Para ter o prazer de
chegar das férias e dizer: “tá vendo a gente aqui, por trás tem uma igreja e,
não dá para ver direito, mas fizemos a foto em Olinda”.
Para eles, os turistas, experimentar a tapioca é quase uma obrigação –
está no guia 4 Rodas. Nem procuram saber ao certo o que estão mastigando, muito
menos se dão conta de que são servidos por uma artista – a tapioqueira -, digna
representante de nossa cultura. Isso mesmo. A tapioca é coisa nossa, invenção
indígena, feita com a goma da mandioca que, espalhada numa frigideira, vira uma
massa tipo panqueca, arredondada, recheada com coco (ou com queijo ou que o
freguês preferir).
Tapioca bem feita é produto de verdadeiro ritual, misto de ciência e
arte. Não é pra qualquer um (ou uma). Como uma relação de amor, pede jeito,
dengo, habilidade e impulso criativo; e se renova com o olhar, a palavra e o
gesto.
Rendamos homenagem à tapioqueira. E saibamos saborear a tapioca, com ou
sem recheio além do coco; com um café quente ou suco de frutas, a depender do
estado de espírito do momento. Com licor também serve, ou com uma boa cachaça.
Porque tapioca é um afago ao paladar e um modo de viver.
Se tem dúvida, vá ao Alto da Sé e experimente.
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