Luciano Siqueira
Publicado no blog da revista
Algomais
O modo de encarar a vida tem
muito de subjetivo e, claro uma boa dose de realidade concreta. Feito o primo
adolescente que respondeu a uma observação minha acerca do seu estado de
espírito – “Você parece em dificuldades” – de modo a não deixar dúvidas: ”Pareço,
não; estou!”
Então, otimismo ou
pessimismo tem tudo a ver com muita coisa – sobretudo com a realidade como ela
é. Mas como a ciência sempre pretende ir muito além do mundo imediato que nos
cerca e da mera aparência das coisas, estuda-se sobre o pessimismo com a mesma
ânsia resolutiva de quem deseja vencer o câncer.
Tim Spector, pesquisador
do Hospital St Thomas, em Londres, acompanha grupo de gêmeos idênticos na
tentativa de esclarecer por que algumas pessoas são mais positivas do que
outras a respeito da vida. Ou seja, ele vai atrás de clarear os mistérios da
formação da personalidade. E, assim, quem sabe tornar possível transformar o
pessimista visceral em saltitante otimista.
Ele observou, por exemplo,
gêmeas idênticas que têm tudo em comum, mas diferem frontalmente porque uma se
mostra sempre entusiasmada e confiante, e a outra frequentemente se deixa
afundar na depressão. A pista o pesquisador inglês diz ter encontrado na
genética. Alguns genes estão presentes na irmã desanimada e ausentes na
eufórica.
No que diz respeito à personalidade,
a diferença entre as pessoas seria meio a meio decorrente de fatores genéticos.
Mas tem um detalhe: o ambiente onde o indivíduo está objetivamente inserido
influencia os genes, modificando-os parcialmente. A epigenética explica,
garantem os entendidos no assunto.
A coisa é muito mais
complexa do que esse breve e superficial registro, que aqui é feito por escriba
absolutamente leigo no assunto. Mesmo tendo formação médica e outrora se
interessado por essa coisa fantástica que é a genética. Fica uma certeza e uma frustração. A certeza está em que a indústria de medicamentos logo cuida de se apropriar de estudos como esse e produzir drogas capazes de provocar a alteração genética necessária. É sempre assim. E não seria trágico se o acesso às tais drogas não custasse ao cidadão comum os olhos da cara – ou seu meus melhores genes, se preferirem. Inalcançável para a maioria.
A frustração é que a tal
influência do ambiente não se faz da noite para o dia – leva um tempo biológico
bem distante do que medimos na vida cotidiana. Por isso, por mais que a gente
se esforce e que a corrente do bom humor se estenda, tem gente que teima em
manter a crista baixa em qualquer situação, irradia pessimismo a torto e a
direito e ainda fecha a cara por qualquer motivo. São os chatos irrecuperáveis
e inacessíveis aos bons resultados da pesquisa do doutor Tim Spector. Ou estou
sendo pessimista?
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