Lula, Temer e os
dois Brasis
Luciano Siqueira, no Blog da Folha
Michel Temer, acuado diante do fogo cruzado em muitos
flancos e rejeitado por mais de noventa por cento dos brasileiros, frequenta
salões oficiais e oficiosos e fala a empresários e a burocratas, aos quais pede
aplausos ao anúncio de cada nova medida de sua agenda regressiva de direitos e
de desmonte nacional.
Luis Inácio Lula da Silva percorre cidades do Nordeste e é
acolhido com entusiasmo por uma multidão calorosa, que o identifica como símbolo
de conquistas e de mudanças em favor dos mais pobres.
Os aplausos a Temer são protocolares – por mais que corteje
o grande capital, para quem governa.
A recepção a Lula tem o cheiro do nosso barro e a emoção genuína
dos que sobrevivem do trabalho.
Temer representa o golpe institucional e a mais desbragada
escalada regressiva de direitos e de esvaziamento de salvaguardas da soberania
nacional.
Lula encarna doze anos de transformações sociais sem precedentes,
de ampliação da democracia e de afirmação do Brasil como nação independente e
altiva no concerto mundial.
São dois Brasis – distintos e diametralmente opostos.
Quaisquer que sejam os desdobramentos da crítica situação
atual e os protagonistas da disputa presidencial de 2018, estarão em confronto
esses dois Brasis.
Prenuncia-se uma peleja radicalizada entre dois pólos, sejam
ou não matizados pelo PT e pelo PSDB, como ocorreu nas ultimas quatro eleições
gerais.
Nem o descrédito na política nem o esgarçamento das
instituições, que corroem expectativas e esperanças, impedirão que a sociedade brasileira
seja instada a decidir sobre os rumos da nação.
Também a confusão midiática, que tenta borrar a real
natureza dos fatos e tergiversar sobre a essência da agenda regressiva posta em
prática pelo presidente ilegítimo não impedirão que o confronto de alternativas
se faça perceptível pela maioria.
A questão a ver é se a onda conservadora que varre o mundo e
nos atinge em cheio prevalecerá sobre a consciência de direitos suprimidos e
aspirações represadas.
A narrativa governista, amplamente disseminada pela mídia aliada,
tropeça na realidade e nos seus efeitos imediatos.
No outro polo, as oposições são chamadas a ultrapassarem os
limites do protesto e da denúncia (sempre necessários) e convergirem para
proposições comuns, que resultem num ideário claro,
factível e compreensível pela
maioria dos eleitores.
Entre os extremos representados pelo triste e deprimente cortejo
seguido por Temer e a euforia emocionada que acolhe Lula nas ruas, segue a
crise em suas variadas dimensões – econômica, institucional, de perspectivas.
Que se acirre o debate das ideias e se confrontem os rumos
opostos – para que os brasileiros decidam conscientemente, através do voto.
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