Negros são 82,7% dos mortos
em ações policiais em seis estados monitorados
Pesquisa da Rede de Observatórios de Segurança revela que uma pessoa
negra é morta pela polícia a cada quatro horas.
Cezar Xavier, portal Vermelho
- Rio de Janeiro é o estado
que possui o maior número de pessoas negras mortas pela polícia
- SP, estado mais populoso do
país, é o segundo em número de mortes
- Com 98%, Bahia apresenta a
maior porcentagem de negros mortos por agentes
- Em Salvador, Fortaleza e
Recife 100% dos mortos em ações policiais são negros
- PE mais que dobrou o número
de mortos pela polícia e 97% dessas pessoas são negras
- No CE, negros tem sete vezes
mais chances de morrer que não negros
- Número de negros mortos pela
polícia ultrapassa 90% no Piauí
- Maranhão tem apagão de dados
e não acompanha a cor dos mortos pela polícia
Estas são algumas das conclusões da pesquisa da Rede de Observatórios da
Segurança com sete estados monitorados.
A cada quatro horas uma pessoa negra é morta em ações policiais na
Bahia, no Ceará, no Piauí, em Pernambuco, no Rio de Janeiro e em São
Paulo. É o que mostra o estudo Pele alvo: a cor da violência
policial elaborado pela Rede de Observatórios da Segurança, publicado
nesta terça-feira (14). Os estados são seis dos sete que são
monitorados pela rede. O sétimo é o Maranhão, onde o governo não acompanha a
cor das vítimas da violência, o que para a entidade é “uma outra forma de
racismo institucional”.
O trabalho é resultado de dados referentes ao ano de 2020, que foram
obtidos por meio da Lei de Acesso à Informação. Pela segunda vez, a
Rede de Observatórios analisa os números das secretarias de segurança dos
estados monitorados. A primeira foi no ano passado.
Conforme a pesquisa, mesmo “em um contexto de crise sanitária mundial, o racismo não dá trégua e, pelo contrário, mata ainda mais, tanto por vírus como por tiro”. O estudo apontou que, entre as 2.653 mortes provocadas pela polícia, com informação racial nos seis estados da rede, 82,7% delas eram pessoas negras.
O Rio de Janeiro mais uma vez foi o estado com mais mortes de pessoas negras em ações policiais. No caso dos 1.092 mortos que tiveram a cor/raça informada, 939 registros eram de pessoas negras. Apesar disso, a Bahia novamente apresentou a maior porcentagem de mortes de pessoas negras por agentes do estado, sendo a polícia mais letal do Nordeste. Pernambuco teve um aumento de 53% de mortes provocadas por ação de agentes do estado, passando de 93% para 97% de pessoas negras entre as vítimas de um ano para o outro.
Nesta edição, a Rede de Observatórios de Segurança, pela primeira vez, apresenta também os números das capitais e constatou que 100% dos mortos pela polícia em Recife, em Fortaleza e em Salvador eram pessoas negras. Em Teresina foram 94% e no Rio de Janeiro 90% de negros mortos pelas polícias.
Para a rede, a proporção de negros mortos pela polícia frente à
sua proporção na população “é a imagem mais contundente do racismo que
estrutura a atividade policial. Em todos os estados, a presença de negros entre
os mortos pela polícia é bem maior do que na composição populacional dos
estados, mostrando que a morte pela ponta de um fuzil carregado por um policial
atinge de maneira desproporcional os negros em relação aos não negros”.
Acesse o estudo completo neste link.
Bahia
De acordo com dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Santo Antônio de Jesus, na Bahia, é a cidade em que mais pessoas negras morrem em ações policiais no Brasil. Entre os que possuem o maior número de mortos, o estado ocupa a terceira posição (595 mortos). O Rio de Janeiro aparece em primeiro lugar (939) e, em segundo, São Paulo (488), que é o estado mais populoso do Brasil. A pesquisa mostrou ainda que a polícia da Bahia, entre todos os estados da rede, é a que apresenta o maior percentual de pessoas negras mortas em ações policiais, com 98%, enquanto que na capital Salvador todas as vítimas da polícia são negras.
Ceará
O estudo Pele alvo: a cor da violência policial indicou que, no Ceará, negros tem sete vezes mais chances de serem mortos do que os não negros. Lá, no percentual da população em geral, 62,3% correspondem a negros, mas entre as vítimas de agentes estatais, pessoas negras atingiram 87,2%. A rede destacou que a constatação ocorreu mesmo com o estado sendo “um dos que mais acumulam problemas com relação ao acompanhamento da cor das vítimas. São 106 vítimas incolores contra 39 com identificação racial”. Na capital Fortaleza, 100% dos mortos pela polícia com identificação racial são negros.
Maranhão
No Maranhão, A rede chamou atenção para a dificuldade em obter resultados no estado por causa da falta de acompanhamento da cor das vítimas de policiais. No entanto, foi possível verificar que o número de pessoas vitimadas por policiais no Maranhão, no total, subiu de 72, em 2019, para 97, em 2020. “A variação entre um ano e outro foi de 35%”.
Pernambuco
Em Pernambuco, 113 pessoas foram vítimas de ações policiais no estado. Entre elas, 109 eram pessoas negras, três brancas, e em um caso não foi identificada a cor da pele. Em 2019, o total de pessoas mortas pela polícia no estado atingiu 74 casos, dos quais 93% eram negras.
Piauí
No Piauí, o percentual de vítimas da violência letal da polícia, de pessoas negras, alcançou 91%. Com 94% de letalidade da população negra por atividade policial, a capital Teresina ficou em terceiro lugar entre as monitoradas.
Rio de Janeiro
Ainda que permaneça como o estado que mais registra mortes em ações e intervenções das polícias, o Rio de Janeiro anotou 1.245 mortes no ano de 2020, o que representa uma redução de 31% em relação a 2019. No entanto, “o valor é o terceiro maior registro de toda a série histórica”. As pessoas negras são 86% entre os mortos pela polícia. A capital também é a com o maior número total de mortes (415). No município, 90% dos mortos em ações policiais são negros.
São Paulo
Em 2020, São Paulo teve 814 mortos pela polícia. Do total de homicídios, 770 ocorrências tiveram registro de raça das vítimas e em 63,4% dos casos, eram negras. Outra informação que a pesquisa revelou é que a proporção de pardos (5,4%) e de pretos (29,4%) entre os mortos é quase o dobro do percentual desse mesmo grupo na população paulista. Já entre os brancos, que representam 64% da população de São Paulo, são 36% entre os mortos pela polícia. Na capital, o percentual de negros mortos pela polícia é de 69%, no entanto, em número de casos, o município (317) só perde para o do Rio de Janeiro (415).
Rede de Observatórios
Depois de fazer a produção de dados em cinco estados, a Rede de Observatórios, que é um projeto do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania (CESeC), com apoio da Fundação Ford, no segundo semestre deste ano, ampliou o estudo para o Maranhão e o Piauí. Para isso, se juntaram ao trabalho, a Rede de Estudos Periféricos, da Universidade Federal do Maranhão (UFMA) e do Instituto Federal do Maranhão (IFMA); o Núcleo de Pesquisas sobre Crianças, Adolescentes e Jovens, da Universidade Federal do Piauí (UFPI) e a Iniciativa Negra por uma Nova Política sobre Drogas (INNPD); além do Gabinete de Assessoria Jurídica às Organizações Populares (Gajop); do Laboratório de Estudos da Violência (LEV/UFC) e ao Núcleo de Estudos da Violência (NEV/USP).
Veja: Crimes suficientemente apurados esperam andamento no
Judiciário https://youtu.be/sJ2lSvc193E
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