Ação contra empresários
bolsonaristas ocorre sem os abusos de Moro e Deltan
Buscas e apreensões nas
casas de empresários cabem em necessária coleta inicial para a investigação de
fato grave
Janio de Freitas, Folha de S. Paulo
Entre ricos empresários brasileiros, é comum uma capacidade muito especial, algo como um poder magnético, que se ativa com presteza automática sempre que seu portador que se vê em encrenca ou desejoso de novas benesses.
Nos inumeráveis segmentos de atividades, só militares têm
capacidade semelhante, até como característica nacional, e talvez pelo
entendimento mútuo das duas classes.
A busca policial nas casas de
oito integrantes do grupo Empresários & Política desencadeou
uma chuva de urgências de desagrado, de início meio encabuladas, em sites,
blogs, jornais, TVs e rádios.
Escritas e ditas por colunistas, colaboradores, advogados menos
ou mais advocatícios e bolsonaristas não lembráveis. Todos com ressalvas ou
críticas à "ordem" do ministro Alexandre de Moraes para
a ação policial contra os empresários flagrados em
considerações pró-golpe.
"Moraes assumiu um risco alto", "operação
controversa da PF", "simples conversa sobre golpe não é crime", "só
falas sobre golpes não indicam crimes" —as formas variaram, não a
preocupação com a pureza judicial ferida pelo excesso (como dizem os militares)
de um ministro do Supremo.
Há mais de dez
anos as buscas e apreensões policiais se tornaram comuns. Não por distração, os
queixosos de hoje nunca se incomodaram com possíveis nem com óbvias
ilegalidades em muitas dessas ações. Até passaram a atrações divertidas em TVs
e jornais.
Não se viu uma só vez em que Alexandre Moraes e
a PF acusassem de crime os alvos das apreensões. Moraes não deu ordem, apenas a
autorização pedida pela PF. Como é praxe legal quando o suspeito é da classe
média para cima.
Para baixo, invasões e assassinatos de criminosos, suspeitos e
inocentes repetem-se à vontade. Não é simples nem foram só falas sobre golpes,
o que faziam os empresários.
Lamentar que o golpe não tenha ocorrido ainda, considerar que o
golpe é mil vezes preferível a um governo Lula e discutir a compra de votos de
trabalhadores para Bolsonaro, constituem indícios claros de apoio ao golpe, no
mínimo, e de provável parte em conspiração.
Confronto direto com o estado democrático de direito, que tem a
sua defesa assegurada na legislação e, nela, preliminares de sedição não
dispensam investigações. Muito ao contrário, esta é a maneira de conter sem violência
desdobramentos antidemocráticos.
"Só falas" podem justificar, sim, investigações. E
mais do que isso. Nesse sentido, um exemplo notório é o recente caso de Daniel Silveira.
Esse ex-PM feito deputado não passou de palavras nas ameaças a
Alexandre Moraes e ao Supremo. Ainda assim, foi preso, solto com tornozeleira e condenado a 9 anos de prisão.
Bolsonaro comutou a pena,
mas a Justiça Eleitoral nega-lhe nova candidatura, em defesa do eleitor e do
Congresso. O início comum aos golpes, diferente das sublevações de massa, são
palavras.
Para não citar vizinhas sem citar a própria casa: "Única base para
decisão de Moraes contra empresários bolsonaristas é reportagem" (Folha,
1ª.pg., sexta - 26.08).
A referência é à reportagem
de Guilherme Amado no site Metrópoles, com a transcrição das
conversas pró-golpe no grupo de empresários. A base de Moraes, porém, foi
outra. Foi a fundamentação da PF ao pedido de autorização para buscas e
apreensões nas casas dos citados pelo trabalho jornalístico.
Além disso, na PF e no Supremo correm diversas ações sigilosas
sobre ativistas contrários à eleição presidencial e à democracia, havendo
apurações associáveis à nova investigação. São empresários ricos financiadores
de toda a atividade do bolsonarismo contra a legalidade.
As buscas e apreensões nas casas dos oito empresários, e
esperamos que de mais, cabem no reconhecimento como a necessária coleta inicial
para a investigação de fato grave. O atual não inclui abusos e trapaças de
Moros e Dallagnols. E revela as bordas enrustidas do bolsonarismo.
Veja; Pedir o voto é um ato de
cidadania https://bit.ly/3QUTNTT
Nenhum comentário:
Postar um comentário