Esforços para adaptação à mudança climática não estão
acompanhando os riscos crescentes
Novo estudo do Pnuma alerta que fluxos
internacionais de financiamento para adaptação nos países em desenvolvimento
estão de cinco a 10 vezes abaixo das necessidades estimadas; diretora executiva
da agência pede medidas fortes para aumentar investimentos e resultados.
ONU News
Com
os impactos do clima se intensificando em todo o mundo, é preciso que os países
aumentem drasticamente o financiamento e a implementação de ações para
adaptação climática. É o que diz o novo relatório do Programa das Nações Unidas
para o Meio Ambiente, Pnuma, lançado as vésperas da COP27.
O
documento “Relatório sobre a Lacuna de Adaptação 2022 conclui
que os esforços globais para planejar, financiar e implementar a adaptação à
mudança climática não estão acompanhando os riscos crescentes.
Progressos na adaptação são desiguais
De
acordo com o documento, mais de oito em 10 dez países têm pelo menos um
instrumento nacional de planejamento de adaptação, embora estejam melhorando e
incorporando medidas mais inclusivas.
Apenas
um terço dos 197 Estados-Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre
Mudança do Clima, Unfccc, incorporou metas de adaptação quantificadas e com
prazos definidos. Cerca de 90% dos instrumentos de planejamento analisados na
pesquisa levam em conta o gênero e os grupos desfavorecidos, como os povos
indígenas.
No
entanto, o financiamento necessário para transformar esses planos em ações
reais não está acompanhando o ritmo. Os fluxos internacionais de
financiamento para adaptação nos países em desenvolvimento estão de 5 a 10
vezes abaixo das necessidades estimadas e essa disparidade continua a
aumentar.
A
agência ressalta que a implementação de ações de adaptação está aumentando, com
foco na agricultura, água, ecossistemas e setores intersetoriais. Mas este
aumento não é proporcional aos impactos da mudança climática. Sem uma mudança
radical no apoio às medidas de adaptação, essas poderiam ser superadas pela
aceleração desenfreada dos riscos climáticos.
Mais investimentos
Em
declaração sobre o lançamento do relatório, o secretário-geral da ONU disse que
as necessidades de adaptação dos países em desenvolvimento estão previstas para
chegar a US$340 bilhões por ano até 2030. No entanto, o apoio representa hoje
menos de um décimo desse montante.
António
Guterres alerta que pessoas e comunidades mais vulneráveis estão pagando o
preço, em situação que considera inaceitável. Para ele, “é hora de uma revisão
global da adaptação climática que ponha de lado as desculpas e pegue a caixa de
ferramentas para resolver os problemas”.
Já
a diretora executiva do Pnuma disse que “a mudança climática está dando golpe
atrás de golpe na humanidade”. Ela citou as enchentes que submergiram grande
parte do Paquistão.
Inger
Andersen disse ainda que o mundo precisa urgentemente reduzir as emissões de
gases de efeito estufa para limitar os impactos da mudança climática. E lembrou
que “as nações devem apoiar as importantes promessas do Pacto Climático de
Glasgow, tomando medidas fortes para aumentar os investimentos e os resultados
de adaptação a partir da COP27.”
Riscos climáticos crescentes
O
Pnuma afirma que a seca de vários anos no Chifre da África, inundações sem
precedentes no sul da Ásia e o intenso calor do verão em todo o hemisfério
norte são evidências de uma tendência de aumento dos riscos climáticos. Esses
graves impactos estão ocorrendo com o aquecimento global de apenas 1,1°C acima
dos níveis pré-industriais.
Para
a agência, isto é preocupante porque o aquecimento global deverá aumentar de
2,4 a 2,6°C até o final do século, se as atuais Contribuições Nacionalmente
Determinadas, NDCs, estabelecidas sob o Acordo de Paris forem mantidas, como
observado no recente Relatório sobre a Lacuna de Emissões.
A
pesquisa do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, Ipcc, conclui
que cada décimo de um grau de aquecimento global intensificará os riscos
climáticos.
O
relatório enfatiza que essas tendências mostram que as medidas de adaptação
devem ter um papel central juntamente com as medidas de mitigação na resposta
global às mudanças climáticas. Mesmo os investimentos ambiciosos em adaptação
não evitarão totalmente os impactos dos eventos climáticos, portanto, perdas e
danos também devem ser alcançados.
Aumento no investimento
Os
fluxos financeiros internacionais para adaptação nos países em desenvolvimento
alcançaram US$ 29 bilhões em 2020, como relatado pelos países doadores, um
aumento de 4% em relação a 2019.
Os
fluxos financeiros combinados para adaptação e mitigação em 2020 foram
registrados pelo menos US$ 17 bilhões abaixo dos US$ 100 bilhões prometidos aos
países em desenvolvimento.
Para
o Pnuma, é necessária uma aceleração significativa para conseguir dobrar os
fluxos financeiros até 2025, em comparação com 2019, como exigido pelo Pacto
Climático de Glasgow. As necessidades anuais estimadas de adaptação variam de
US$ 160 bilhões a US$ 340 bilhões até 2030, e de US$ 315 bilhões a US$ 565
bilhões até 2050.
Ações
unificadas
O
relatório conclui que a interligação das ações de adaptação e mitigação, como
as soluções baseadas na natureza, desde o início em suas fases de planejamento,
financiamento e implementação pode melhorar os benefícios mútuos. E que essa
ligação também poderia evitar que ações se prejudiquem, como a energia
hidrelétrica reduzindo a segurança alimentar ou a irrigação das culturas,
aumentando o consumo de energia.
Os
autores concluem que é necessária uma forte vontade política para aumentar os
investimentos e os resultados da adaptação. Para o Pnuma, crises como a guerra
na Ucrânia e a pandemia da Covid-19 não podem descarrilar os esforços
internacionais para aumentar a adaptação à mudança climática.
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