04 novembro 2022

Crise climática

Esforços para adaptação à mudança climática não estão acompanhando os riscos crescentes

Novo estudo do Pnuma alerta que fluxos internacionais de financiamento para adaptação nos países em desenvolvimento estão de cinco a 10 vezes abaixo das necessidades estimadas; diretora executiva da agência pede medidas fortes para aumentar investimentos e resultados.
ONU News

 

Com os impactos do clima se intensificando em todo o mundo, é preciso que os países aumentem drasticamente o financiamento e a implementação de ações para adaptação climática. É o que diz o novo relatório do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, Pnuma, lançado as vésperas da COP27.

O documento “Relatório sobre a Lacuna de Adaptação 2022 conclui que os esforços globais para planejar, financiar e implementar a adaptação à mudança climática não estão acompanhando os riscos crescentes.

Progressos na adaptação são desiguais

De acordo com o documento, mais de oito em 10 dez países têm pelo menos um instrumento nacional de planejamento de adaptação, embora estejam melhorando e incorporando medidas mais inclusivas.

Apenas um terço dos 197 Estados-Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, Unfccc, incorporou metas de adaptação quantificadas e com prazos definidos. Cerca de 90% dos instrumentos de planejamento analisados na pesquisa levam em conta o gênero e os grupos desfavorecidos, como os povos indígenas.

No entanto, o financiamento necessário para transformar esses planos em ações reais não está acompanhando o ritmo. Os fluxos internacionais de financiamento para adaptação nos países em desenvolvimento estão de 5 a 10 vezes abaixo das necessidades estimadas e essa disparidade continua a aumentar.

A agência ressalta que a implementação de ações de adaptação está aumentando, com foco na agricultura, água, ecossistemas e setores intersetoriais. Mas este aumento não é proporcional aos impactos da mudança climática. Sem uma mudança radical no apoio às medidas de adaptação, essas poderiam ser superadas pela aceleração desenfreada dos riscos climáticos.

Mais investimentos

Em declaração sobre o lançamento do relatório, o secretário-geral da ONU disse que as necessidades de adaptação dos países em desenvolvimento estão previstas para chegar a US$340 bilhões por ano até 2030. No entanto, o apoio representa hoje menos de um décimo desse montante.

António Guterres alerta que pessoas e comunidades mais vulneráveis estão pagando o preço, em situação que considera inaceitável. Para ele, “é hora de uma revisão global da adaptação climática que ponha de lado as desculpas e pegue a caixa de ferramentas para resolver os problemas”.

Já a diretora executiva do Pnuma disse que “a mudança climática está dando golpe atrás de golpe na humanidade”. Ela citou as enchentes que submergiram grande parte do Paquistão.

Inger Andersen disse ainda que o mundo precisa urgentemente reduzir as emissões de gases de efeito estufa para limitar os impactos da mudança climática. E lembrou que “as nações devem apoiar as importantes promessas do Pacto Climático de Glasgow, tomando medidas fortes para aumentar os investimentos e os resultados de adaptação a partir da COP27.”

Riscos climáticos crescentes

O Pnuma afirma que a seca de vários anos no Chifre da África, inundações sem precedentes no sul da Ásia e o intenso calor do verão em todo o hemisfério norte são evidências de uma tendência de aumento dos riscos climáticos. Esses graves impactos estão ocorrendo com o aquecimento global de apenas 1,1°C acima dos níveis pré-industriais.

Para a agência, isto é preocupante porque o aquecimento global deverá aumentar de 2,4 a 2,6°C até o final do século, se as atuais Contribuições Nacionalmente Determinadas, NDCs, estabelecidas sob o Acordo de Paris forem mantidas, como observado no recente Relatório sobre a Lacuna de Emissões.

A pesquisa do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, Ipcc, conclui que cada décimo de um grau de aquecimento global intensificará os riscos climáticos.

O relatório enfatiza que essas tendências mostram que as medidas de adaptação devem ter um papel central juntamente com as medidas de mitigação na resposta global às mudanças climáticas. Mesmo os investimentos ambiciosos em adaptação não evitarão totalmente os impactos dos eventos climáticos, portanto, perdas e danos também devem ser alcançados.

Aumento no investimento

Os fluxos financeiros internacionais para adaptação nos países em desenvolvimento alcançaram US$ 29 bilhões em 2020, como relatado pelos países doadores, um aumento de 4% em relação a 2019.

Os fluxos financeiros combinados para adaptação e mitigação em 2020 foram registrados pelo menos US$ 17 bilhões abaixo dos US$ 100 bilhões prometidos aos países em desenvolvimento.

Para o Pnuma, é necessária uma aceleração significativa para conseguir dobrar os fluxos financeiros até 2025, em comparação com 2019, como exigido pelo Pacto Climático de Glasgow. As necessidades anuais estimadas de adaptação variam de US$ 160 bilhões a US$ 340 bilhões até 2030, e de US$ 315 bilhões a US$ 565 bilhões até 2050.

Ações unificadas

O relatório conclui que a interligação das ações de adaptação e mitigação, como as soluções baseadas na natureza, desde o início em suas fases de planejamento, financiamento e implementação pode melhorar os benefícios mútuos. E que essa ligação também poderia evitar que ações se prejudiquem, como a energia hidrelétrica reduzindo a segurança alimentar ou a irrigação das culturas, aumentando o consumo de energia.

Os autores concluem que é necessária uma forte vontade política para aumentar os investimentos e os resultados da adaptação. Para o Pnuma, crises como a guerra na Ucrânia e a pandemia da Covid-19 não podem descarrilar os esforços internacionais para aumentar a adaptação à mudança climática.

 

Leia também: A floresta sumiu, ninguém sabe, ninguém viu  https://bit.ly/3AByP7C

Nenhum comentário: