Ao recusar feto de plástico, ministro expôs farsa e
desmoralizou senador
Silvio Almeida rechaçou
teatro de bolsonarista Eduardo Girão para chocar eleitor religioso
Bernardo Mello Franco/O Globo
A performance foi
planejada para chocar. Num gesto teatral, o senador Eduardo Girão se levantou
da cadeira e caminhou até o ministro Silvio Almeida. Queria presenteá-lo com um
pequeno boneco de plástico, simbolizando um feto de 11 semanas.
De
celular em punho, uma assessora filmava tudo para abastecer as redes do chefe.
Não contava com a reação do ministro, que se recusou a participar da encenação.
“Isso é uma exploração inaceitável de um problema sério”, reagiu Almeida. Sem
alterar a voz, o professor expôs a farsa e desmoralizou o farsante.
Dublê de empresário e
cartola de futebol, Girão se elegeu na onda bolsonarista de 2018. Em quatro
anos de mandato, já está no terceiro partido. Debutou no Pros, passou pelo
Podemos e hoje é filiado ao Novo, que um dia se vendeu como novidade na
política.
Na CPI da
Covid, defendeu tratamentos ineficazes e fez propaganda da cloroquina. Agora milita
contra a regulação das plataformas digitais, que pode impor barreiras ao
discurso de ódio e à desinformação.
Girão tem
motivos para temer o projeto. Em novembro, convidou ativistas de extrema
direita para uma audiência no Senado. A sessão foi marcada por mentiras sobre
as urnas, ataques ao Judiciário e pedidos de golpe militar.
“Vamos
parar esse país para que vocês entendam que nós não estamos brincando”, ameaçou
um dos oradores, após chamar o ministro Alexandre de Moraes de “ditador de
toga”. Os discursos ganharam as redes e ajudaram a fermentar o clima para os
ataques de 8 de janeiro.
No início
da semana, Girão compartilhou a mentira de que o PL das Fake News censuraria
versículos da Bíblia. A performance com o feto de plástico faz parte da mesma
tática para confundir e assustar o eleitorado religioso.
Além de
desrespeitar o ministro dos Direitos Humanos, o senador criticou ontem o
Ministério da Saúde por revogar uma portaria do governo Bolsonaro. O texto
obrigava vítimas de estupro a passarem numa delegacia para terem direito à
interrupção legal da gravidez.
A medida impunha mais um constrangimento a mulheres
violentadas. Como Girão se apresenta como “cristão e pró-vida”, haverá quem
acredite em suas boas intenções.
Extrema
direita católica em pé de guerra nas redes sociais https://bit.ly/3ZfKzWt
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