Como
o Google aliou-se à ultradireita
Estudo de laboratório da UFRJ revela: Alphabet e
Meta fazem tudo para tentar derrubar o PL 2630. Buscas recomendam sites de fake
news, Youtube promove vídeos desinformativos e empresa tenta influenciar
produtores de conteúdo contra projeto
Ana
Gabriela Sales/Jornal GGN
Líder global do mercado de buscas na internet, o Google tem favorecido sites de extrema-direita, publicadores de fake news, negacionismo e revisionismo histórico, nas pesquisas de usuários por informações sobre o Projeto de Lei nº 2630/2020, chamado popularmente de PL das Fake News.
A informação é do relatório “A guerra das plataformas contra o PL 2630“, produzido pelo NetLab, o Laboratório de Estudos de Internet e Mídias Sociais da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
De acordo com o estudo, a investida faz parte de uma ofensiva das empresas big techs – o Google, também responsável pelo Youtube, e a Meta, dona do Facebook, Instagram e WhasApp – contra o PL, que está na pauta da Câmara dos Deputados desta terça-feira (2).
A análise mostrou que, em meio à recomendação de fontes sobre o “PL 2630”, o Google tem redirecionado usuários para “sites nocivos”, “hiperpartidários” e que estão em campanha aberta contra o PL, uma vez que as respectivas sugestões desses portais aparecem logo na primeira página dos resultados de buscas anônima ou orgânica.
Segundo o levantamento, na busca anônima pelo termo “PL 2630”, o portal indicado é o Boletim da Liberdade, do ex-deputado federal Paulo Ganime (Novo/RJ), e que tem divulgado falas do deputado federal Kim Kataguiri (União/SP) que aludem a uma “censura generalizada” e à “perda da liberdade de expressão” caso o PL das fake news seja aprovado.
“Outra publicação indicada na primeira página do Google em busca
anônima sobre o PL 2630 foi um texto da Revista Oeste, fonte considerada
bolsonarista e acusada de disseminar desinformação”, ressaltou trecho do
estudo.
Já a fonte indicada como resultado da busca orgânica na primeira página do Google para o termo “PL 2630” foi o portal de desinformação Pleno News. “Além de falar em censura, o texto divulga apenas as posições de parlamentares da oposição, citando nominalmente a atuação do Partido Novo, da Bancada Evangélica e do Partido Liberal”.
Ainda, entre os principais resultados orgânicos na primeira página da busca do Google, há também impulsionamentos pagos pelo Brasil Paralelo, site da produtora audiovisual de extrema-direita acusada de disseminar desinformação.
Além disso, o relatório chama atenção que o YouTube tem sugerido na primeira página vídeos de transmissão ao vivo feitos contra o PL e que no Twitter usuários denunciaram que “o YouTube está pressionando criadores de conteúdo no painel interno da plataforma com um “alerta” de que a aprovação do PL2630 irá prejudicá-los diretamente”.
Abuso de poder econômico e violação contra o direito à informação correta
Chamado de “PL da Censura” pela oposição, o PL 2630 visa impedir a disseminação de conteúdos falsos no ambiente digital, prevê punições para quem descumprir as regras, além de monitorar o impulsionamento de propaganda eleitoral e conteúdos políticos.
Segundo o relatório do NetLab, há “evidências de que o Google vem apresentando resultados de busca enviesados para usuários que pesquisam por termos relacionados ao projeto de lei”. Além disso, hoje na página inicial do buscador aparece a mensagem: “O PL das fake news pode aumentar a confusão sobre o que é verdade ou mentira no Brasil”.
De acordo com o NetLab, “estas diferentes estratégias sugerem que o Google vem se aproveitando de sua posição de liderança no mercado de buscas para propagar suas ideias e influenciar negativamente a percepção dos usuários sobre o projeto de lei em prol de seus interesses comerciais, o que pode configurar abuso de poder econômico”.
Prestação de contas
Após a repercussão do relatório, o Ministério Público Federal acionou o Google e a Meta sobre o caso e cobrou esclarecimentos em até 10 dias. Já o ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, afirmou que vai encaminhar uma denúncia de práticas abusivas cometidas por Big Techs à Secretaria Nacional do Consumidor
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