O ideal seria que Ancelotti começasse agora o trabalho na seleção
Mas o ideal só existe nos nossos desejos e imaginações
Tostão/Folha de S. Paulo
Um chavão bastante utilizado no futebol, que muitas vezes não corresponde à realidade, é o de que seja necessário um bom tempo para um treinador que vai começar o trabalho colocar em prática suas ideias e preferências. Felipão, com a ajuda de profissionais do Atlético-MG, precisou apenas de uma boa conversa pouco antes do jogo contra o Fluminense, sem treinar, para mudar o desenho tático do time, com sucesso.
O Atlético-MG, em vez de atuar com um volante, uma linha de três meias e dois atacantes, como fazia com Coudet, jogou com um volante, um meio-campista de cada lado, Hyoran e Zaracho, que marcavam e atacavam, além de Pavón pela direita, Hulk pelo centro e Paulinho pela esquerda, que voltava para marcar e ainda entrava pelo meio como um atacante. Felipão mudou Hyoran e Paulinho de posições.
Nos três amistosos após a Copa do Mundo, o interino Ramon manteve o desenho tático usado por Tite. Será que Ancelotti assistiu à derrota para o Senegal? A seleção brasileira repetiu as deficiências coletivas e individuais dos últimos anos, ao priorizar os lances isolados e rápidos de ataques em detrimento da aproximação, da troca de passes e do domínio da bola e do jogo.
O Real Madrid, dirigido por Ancelotti, alterna os dois estilos em uma mesma partida. A seleção repetiu contra Senegal problemas individuais, nas laterais, no meio-campo e na posição de centroavante.
Ancelotti, se viu o jogo, não deve ter gostado. O lateral esquerdo Ayrton Lucas avançava muito e marcava pouco, enquanto o lateral direito Danilo marcava muito e avançava pouco. Senegal deitou e rolou no espaço deixado por Ayrton Lucas. Além disso, com Vinicius Junior aberto pela esquerda, não há espaço para Ayrton Lucas atacar como um ponta.
Acostumado com Kross, Modric e Benzema, o italiano deve ter ficado preocupado. O técnico conhece bastante Richarlison, da época do Everton, sabe que ele é bom jogador, mas está longe do talento de Benzema, além de ter características diferentes.
O treinador ainda não deu a palavra final, mas já deve estar pensando em que lugar escalaria Neymar? Seria pelo meio, próximo do centroavante, o que deixaria a seleção com apenas dois no meio-campo, Casemiro e mais um. No Real, são Casemiro e mais dois, além de Vinicius Junior e Rodrygo pelas pontas.Será que Ancelotti optaria por colocar Neymar mais à frente, no lugar de Richarlison? Neymar possui um repertorio individual muito mais amplo do que o de Benzema, porém não tem a mesma lucidez coletiva, de voltar para receber a bola, trocar passes e abrir espaços pelo meio para Vinicius penetrar e decidir as jogadas. Imagino ainda que Ancelotti, na seleção, teria receio de que Vinicius Junior não seria tão espetacular quanto é no Real Madrid, porque não haveria a companhia de Benzema, Modric e Kross.
O italiano não deve ter ficado surpreso com a vitória de Senegal. No mesmo raciocínio, não foi zebra a vitória da Colômbia sobre a Alemanha. Senegal e Colômbia possuem boas equipes. A grande superioridade europeia sobre a sul-americana ocorre somente entre clubes. A seleção alemã passa por péssimos momentos desde a Copa do Mundo de 2018. Hoje, Inglaterra e França são as duas melhores seleções da Europa.
Carlo Ancelotti, além de ser um dos maiores treinadores do mundo, demonstra durante as partidas muito respeito pelos árbitros e auxiliares, o que, infelizmente, não acontece com Fernando Diniz e Abel Ferreira. O ideal seria que Ancelotti começasse agora o trabalho na seleção brasileira. O ideal só existe nos nossos desejos e imaginações.
As muitas cores da vida https://bit.ly/3Ye45TD
Nenhum comentário:
Postar um comentário