Melhor jair se acostumando com a Lei e a Ordem
Enio Lins*
Recentes ações da Polícia Federal, apreendendo o passaporte do mito, prendendo envolvidos e intimando bolsonaristas poderosos, demonstram que a vagabundagem saiu de cartaz e que a Justiça procura cumprir seu papel, independente de quão poderosos sejam os personagens investigados.
Uma boa nova, pois a velha tradição diz que golpes de Estado, no Brasil, sejam tentativas frustradas ou operação de sucesso, jamais renderam punição para quem quer que seja – desde que sejam de direita, apesar de uns poucos “galinhas verdes” terem passado um tempo na detenção pela insurreição de 1937.
HISTÓRICO DE LENIÊNCIA
Em verdade, a exceção autêntica nessa história de aliviar com golpistas foi a reação pesada de Floriano Peixoto, presidente que derrotou duas tentativas de golpe: a Revolta da Armada e o Levante Federalista, ocasiões nas quais as normas marciais foram cumpridas rigorosamente, independente de patente.
Essa atitude inusitada rendeu ao presidente Floriano Peixoto, durante seu mandato entre 1891 e 1894, a consigna de “Marechal de Ferro”. Fora isso, sempre se passou a mão nas cabeças dos golpistas, fossem militares ou civis, sempre beneficiados por esquecimentos cúmplices e/ou acovardados.
GOLPE ACIMA DE TUDO
Jamais pode ser esquecido, em qualquer análise desse caso, que Jair Messias passou os quatro anos de seu mandato articulando aberta e acintosamente a subversão em benefício pessoal e de sua familícia – 8 de janeiro de 2023 foi apenas o gesto derradeiro e mais ousado do projeto “golpe acima de tudo”.
Não pode ser esquecida a reação digna de oficiais superiores, inclusive membros de governo do ex-capitão que lhes resistiram e lhes negaram condições para seguir em seus planos golpistas, como o General Santos Cruz, General Fernando Azevedo, General Edson Pujol, Almirante Ilques Barbosa, Brigadeiro Antônio Bermudez.
GOLPE EM CIMA DE TODOS
Não é novidade, dado os próprios posicionamentos públicos de Jair, mas a minuta escrita como guia para o golpe e outros registros localizados – e agora livres do segredo de justiça –, além de serem provas cabais e incontornáveis, confirmam o desejo manifesto em falas, gestos e atitudes do ex-capitão e de seus seguidores.
Golpe sobre todas as instituições que não lhes fossem subservientes sempre foi a meta central do ex-capitão das milícias. Muito antes da derrota nas urnas em 2022, o gado – seguindo os berrantes do mito – frequentavam as portas dos quartéis Brasil afora defendendo uma intervenção militar e atacando a Democracia.
GOLPE EM APURAÇÃO
Quem acha que alguém está acima da lei entrou em estado de choque com as investigações em curso, tocadas – absolutamente dentro da lei e da ordem – pela Polícia Federal. Essas pessoas, perplexas, perceberam que não podem repetir o método Roberto Jefferson de reação a mandados de busca e apreensão e/ou de prisão.
Às vésperas do Carnaval, o povo brasileiro está notando que nem sempre tudo acaba em samba, o samba da impunidade. Entre os golpistas, há quem ache melhor jair desmaiando, outros emudecem, outros reclamam perseguição. É a lei de um lado e o mimimi de outro. E que a Democracia, campeã, desfile na avenida.
*Arquiteto, jornalista, cartunista
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