Investimentos: deixando claro
Abraham B. Sicsú
Recebo, de fontes diferentes, o mesmo vídeo. Dizendo o “absurdo” que é a carga tributária no país e como isso está levando o capital a se retirar do Brasil. Chega a afirmar que “empresário não é burro” e “todos” estão saindo. O interessante é que o lócus para onde vão, pelo menos no filminho, é o Paraguai. “Lá sim se tem um sistema claro e confiável”. E mais, ninguém vai querer fazer investimentos no Brasil.
Evidentemente que há uma posição ideológica por trás,
da qual discordo totalmente. Não há como negar. Mas, é bom verificar o assunto.
Procurando dados que sejam consistentes.
Há problemas a enfrentar, não há dúvida. E não devem
ser ignorados. Do lado econômico dois se tornam cruciais. A baixíssima
produtividade observada no país e o nível de investimentos no Brasil.
Nas avaliações internacionais estamos acima do
sexagésimo lugar no ranking mundial de produtividade do Institute for Manegement
and Development (IMD), próximos da Venezuela, e a produtividade do nosso
trabalhador é um quarto da dos americanos. Claramente, compromete a
competitividade de nossos produtos.
Não se nega que o nível de investimentos no Brasil
está baixo. Em 2024 foi de 17% do Produto Interno Bruto, quando o desejável
seria acima dos 26%. Mas, foi maior que
2023, ano em que não passou dos 16,4%. Procuro verificar a dita fuga de
capitais produtivos. No entanto, no mês de fevereiro de 2025 se conseguiu
captar de investimento externo direto mais de 9 bilhões de dólares, um grande
salto, um dos quatro melhores meses para a nossa economia, na história da
nação.
Os analistas imaginavam um quadro muito pior, poucos
acreditando que se chegaria à metade do conseguido.
O investimento externo direto é um bom sinalizador
para as perspectivas do PIB de mais longo prazo. Nosso patamar se mantinha,
entre 2012 e 2023, na faixa de 2,9% do PIB, o que saltou para cerca de 3,3% nos
últimos dois anos, apontando para um crescimento de largo prazo. Este ano,
todos os especialistas apontam para um saldo positivo de mais de 71 bilhões de
dólares na atração de investimentos. Muito bom para o momento que se atravessa.
Evidentemente que as crises internacionais afetam
fortemente os investimentos. E estamos em momento de fortes crises. Guerras,
tarifas que comprometem o perfil do mercado internacional, barreiras não
tarifárias.
Mesmo assim, o Brasil é forte atrator de
investimentos, estando entre os quatro maiores a nível mundial e se consolidando
como o principal atrator de investimentos na América Latina. Houve um grande
esforço para diminuir a burocracia e facilitar a entrada de capital
estrangeiro. Inclusive pelos órgãos de análise da concorrência.
Verdade que ainda temos grandes desafios na atração de
investimentos. Nossa taxa de atração de investimentos não passa dos 18% nos
últimos períodos, enquanto nos países latino americanos se situa perto dos 21%.
Também, com a taxa básica de juros no patamar atual, com o crédito muito
encarecido, há um forte desestímulo a novos investimentos. Um forte freio nas
atividades produtivas. Por outro lado, o câmbio desvalorizado permite manter o
nível atual de captação, pelo menos na agroindústria e no setor primário.
É bom ressaltar que há fatores internos que têm
estimulado novos investimentos. Do lado governamental, dois programas são
fundamentais para o acelerar de atração de investimentos, tanto externos como
internos.
O Nova Indústria Brasil definiu uma estratégia e
caminhos seguros em seis missões que devem ser priorizadas. Reindustrializar o
País passou a ser uma das possíveis marcas deste governo. As bases procuram ser construídas. Não é
fácil.
Missões escolhidas, mas uma constatação. O custo
Brasil, ou seja, a dificuldade que se tem de ter preços competitivos com uma
infraestrutura sucateada de transporte e de obras de base, além de uma
burocracia que pouco ajuda.
A integração produtiva e dos mercados passa pela
recuperação delas, o que exige indústrias de equipamentos pesados, de insumos
oriundos do petróleo e outras matérias primas, entre outros, de uma química
moderna e estruturada, enfim, a construção pesada não se faz sem ter uma
indústria de base que lhe dê respaldo. Outro desafio.
Nisso surge o outro programa. O Novo PAC, Programa de
Aceleração do Crescimento. Pesados investimentos devem ser feitos para
conseguir diminuir os entraves de produtividade existentes na infraestrutura
atual. Não só com recursos governamentais, mas, fortemente assentado em
alianças estratégicas internacionais e no capital privado. É ousado, mas muito
necessário. Sem eles, difícil superar o patamar atual de investimentos e
produtividade.
Alguns aspectos ficam claros.
As visões catastrofistas que os vídeos mostram não
encontram base na realidade atual. Não há como sustentar que os investimentos
não serão feitos no Brasil. Justamente porque o empresário não é burro, sabe
muito bem o que representa um mercado da dimensão do Brasil e a importância de
aqui estar.
Também, não se deve negar que há problemas para
conseguir o aumento de investimentos no país. Têm que ser enfrentados. E são de
diferentes ordens, não apenas tributárias. As reformas atuais podem não
resolver toda a burocracia e complexidade de nosso sistema, mas ajudam, em
muito, diminuí-los.
Terceiro, temos um problema concreto para o ganho de
produtividade que não vem melhorando nos últimos anos. Nessa direção, o assumir
uma prioridade nas estratégias nacionais para o setor secundário, indústria,
além da recuperação da infraestrutura de suporte, é um indicativo de busca de
melhores condições para um crescimento sustentável de mais largo prazo.
Por fim, muito importante, criar as condições para
poder começar, com brevidade, a reduzir
a taxa de juros básica que, em muito, vem dificultando um projeto de melhoria das
condições de investimento no Brasil e seus efeitos positivos na vida do cidadão
brasileiro.
Em síntese, a expansão da formação bruta de capital
fixo, ou seja, investimentos, parece ser um forte sinal, com consistência, para
um crescimento sustentável de mais longo prazo. Todos temos a ganhar.
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Leia: Mudança no imposto de renda e queda de juros dependem da luta política https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/03/economia-e-questao-politica.html
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