27 março 2025

Abraham Sicsú opina

Investimentos: deixando claro
Abraham B. Sicsú  

Recebo, de fontes diferentes, o mesmo vídeo. Dizendo o “absurdo” que é a carga tributária no país e como isso está levando o capital a se retirar do Brasil. Chega a afirmar que “empresário não é burro” e “todos” estão saindo. O interessante é que o lócus para onde vão, pelo menos no filminho, é o Paraguai. “Lá sim se tem um sistema claro e confiável”. E mais, ninguém vai querer fazer investimentos no Brasil.

Evidentemente que há uma posição ideológica por trás, da qual discordo totalmente. Não há como negar. Mas, é bom verificar o assunto. Procurando dados que sejam consistentes.

Há problemas a enfrentar, não há dúvida. E não devem ser ignorados. Do lado econômico dois se tornam cruciais. A baixíssima produtividade observada no país e o nível de investimentos no Brasil.

Nas avaliações internacionais estamos acima do sexagésimo lugar no ranking mundial de produtividade do Institute for Manegement and Development (IMD), próximos da Venezuela, e a produtividade do nosso trabalhador é um quarto da dos americanos. Claramente, compromete a competitividade de nossos produtos.

Não se nega que o nível de investimentos no Brasil está baixo. Em 2024 foi de 17% do Produto Interno Bruto, quando o desejável seria acima dos 26%.  Mas, foi maior que 2023, ano em que não passou dos 16,4%. Procuro verificar a dita fuga de capitais produtivos. No entanto, no mês de fevereiro de 2025 se conseguiu captar de investimento externo direto mais de 9 bilhões de dólares, um grande salto, um dos quatro melhores meses para a nossa economia, na história da nação.

Os analistas imaginavam um quadro muito pior, poucos acreditando que se chegaria à metade do conseguido.

O investimento externo direto é um bom sinalizador para as perspectivas do PIB de mais longo prazo. Nosso patamar se mantinha, entre 2012 e 2023, na faixa de 2,9% do PIB, o que saltou para cerca de 3,3% nos últimos dois anos, apontando para um crescimento de largo prazo. Este ano, todos os especialistas apontam para um saldo positivo de mais de 71 bilhões de dólares na atração de investimentos. Muito bom para o momento que se atravessa.

Evidentemente que as crises internacionais afetam fortemente os investimentos. E estamos em momento de fortes crises. Guerras, tarifas que comprometem o perfil do mercado internacional, barreiras não tarifárias.

Mesmo assim, o Brasil é forte atrator de investimentos, estando entre os quatro maiores a nível mundial e se consolidando como o principal atrator de investimentos na América Latina. Houve um grande esforço para diminuir a burocracia e facilitar a entrada de capital estrangeiro. Inclusive pelos órgãos de análise da concorrência.

Verdade que ainda temos grandes desafios na atração de investimentos. Nossa taxa de atração de investimentos não passa dos 18% nos últimos períodos, enquanto nos países latino americanos se situa perto dos 21%. Também, com a taxa básica de juros no patamar atual, com o crédito muito encarecido, há um forte desestímulo a novos investimentos. Um forte freio nas atividades produtivas. Por outro lado, o câmbio desvalorizado permite manter o nível atual de captação, pelo menos na agroindústria e no setor primário.

É bom ressaltar que há fatores internos que têm estimulado novos investimentos. Do lado governamental, dois programas são fundamentais para o acelerar de atração de investimentos, tanto externos como internos.

O Nova Indústria Brasil definiu uma estratégia e caminhos seguros em seis missões que devem ser priorizadas. Reindustrializar o País passou a ser uma das possíveis marcas deste governo.  As bases procuram ser construídas. Não é fácil.

Missões escolhidas, mas uma constatação. O custo Brasil, ou seja, a dificuldade que se tem de ter preços competitivos com uma infraestrutura sucateada de transporte e de obras de base, além de uma burocracia que pouco ajuda.

A integração produtiva e dos mercados passa pela recuperação delas, o que exige indústrias de equipamentos pesados, de insumos oriundos do petróleo e outras matérias primas, entre outros, de uma química moderna e estruturada, enfim, a construção pesada não se faz sem ter uma indústria de base que lhe dê respaldo. Outro desafio.

Nisso surge o outro programa. O Novo PAC, Programa de Aceleração do Crescimento. Pesados investimentos devem ser feitos para conseguir diminuir os entraves de produtividade existentes na infraestrutura atual. Não só com recursos governamentais, mas, fortemente assentado em alianças estratégicas internacionais e no capital privado. É ousado, mas muito necessário. Sem eles, difícil superar o patamar atual de investimentos e produtividade.

Alguns aspectos ficam claros.

As visões catastrofistas que os vídeos mostram não encontram base na realidade atual. Não há como sustentar que os investimentos não serão feitos no Brasil. Justamente porque o empresário não é burro, sabe muito bem o que representa um mercado da dimensão do Brasil e a importância de aqui estar.

Também, não se deve negar que há problemas para conseguir o aumento de investimentos no país. Têm que ser enfrentados. E são de diferentes ordens, não apenas tributárias. As reformas atuais podem não resolver toda a burocracia e complexidade de nosso sistema, mas ajudam, em muito, diminuí-los.

Terceiro, temos um problema concreto para o ganho de produtividade que não vem melhorando nos últimos anos. Nessa direção, o assumir uma prioridade nas estratégias nacionais para o setor secundário, indústria, além da recuperação da infraestrutura de suporte, é um indicativo de busca de melhores condições para um crescimento sustentável de mais largo prazo.

Por fim, muito importante, criar as condições para poder começar, com  brevidade, a reduzir a taxa de juros básica que, em muito, vem dificultando um projeto de melhoria das condições de investimento no Brasil e seus efeitos positivos na vida do cidadão brasileiro.

Em síntese, a expansão da formação bruta de capital fixo, ou seja, investimentos, parece ser um forte sinal, com consistência, para um crescimento sustentável de mais longo prazo. Todos temos a ganhar.

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