Da
ficha de leitura manuscrita às redes digitais
Luciano Siqueira
instagram.com/lucianosiqueira65
Sempre me fascinaram as palavras, desde a escola primária. Juntar palavras e traduzir a ideia e o sentimento é algo mágico para mim. Brincar com elas, mudar a ordem e construir diferentes sentidos para a frase original. Mesmo a simplória sentença “Ivo viu a Uva” das rudimentares cartilhas de alfabetização.
Daí também o gosto pela leitura. E
pela anotação do lido e do imaginado, em fichas manuscritas.
Adolescente, vindo morar no Recife (a família se transferira
de Natal, RN), ganho a sorte grande de um convite de Paulo Rosas, psicólogo,
professor da Universidade Federal de Pernambuco, meu tio: cuidar de sua
biblioteca. Com uma tarefa básica e a liberdade de ler o que quisesse.
A tarefa básica: transformar em fichas de leitura, datilografando em
papel cartão, grifos e anotações à margem que ele fazia nos livros que lia -
não apenas sobre Psicologia e Educação, focos de sua atuação como professor e
pesquisador, pois seu ângulo de visão era vasto e múltiplo, incluindo a boa
literatura brasileira e universal. Para mim, um aprendizado precioso do modo de
sistematizar as ideias e guardar conhecimento.
A liberdade de ler não era assim tão
irrestrita. Aquela coleção de capa dura e papel bíblia eu ainda não tinha
maturidade para ler, disse-me. O mesmo que botar uma linguiça na boca de um
cachorro e pedir que ele a rejeite. Comecei a ler exatamente aqueles livros,
claro que entendendo quase nada das Obras Escolhidas de Freud, em espanhol.
Hoje, primeira década do Século XXI,
onde se informatizam até os desejos mais primários do ser humano, já não faço
fichas manuscritas nem datilografadas. Desde que o companheiro de lutas e amigo
Eduardo Bonfim me apresentou a maravilha do computador (eu resistindo, apegado
ao papel e à máquina de escrever), e Neguinha, minha filha, passou a usá-lo em
casa para dar conta do curso de Arquitetura, cedi à modernidade. Mas continuei
fazendo minhas fichinhas de leitura, agora digitadas.
Hoje me espanto quando alguém me
chama de “avançado” porque estou na Internet de corpo e alma. É como que
tomando consciência do quanto pude evoluir no uso de ferramentas diversas para
anotar, refletir, formular ideias ou simplesmente alimentar meus sonhos.
Mantenho o blog pessoal www.lucianosiqueira.blogspot.com,
comunico-me pelas redes – Instagram, Threads, X (ex-Twitter) e desenvolvo
intensa correspondência pelo WhatsApp e mesmo por e-mail..
Certamente por isso outro dia um
amigo me veio convencer da utilidade do livro digital, certo de que aqui
encontraria guarida para seus argumentos. E se surpreendeu com a minha recusa:
“Peraí, rapaz, nada substitui o impresso. Estou na Internet, mas não me tire o
prazer de ler meus livros!”
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Leia também: Diálogo nada confortável https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/04/minha-opiniao_13.html

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