Num certo sentido, sim. A seleção brasileira na Copa do Mundo de futebol significa “a Pátria de chuteiras”? Tirante algum exagero dessa frase cunhada por Nelson Rodrigues, repetida em manchetes de primeira página antes da estréia contra a Croácia, nossos jogadores bem que representam, sim, no campo, a nação brasileira – suas contradições, potencialidades, dilemas, desafios.
Começa que, com uma ou outra exceção, o elenco canarinho é formado por atletas oriundos das camadas mais populares da sociedade. É gente que nasceu muito pobre e que escapou da miséria através do talento com a bola no pé. Num país em que, a despeito da modernização alcançada nas últimas décadas e da iniciante mudança de rumo atual, chegar até onde essa gente chegou é uma proeza e tanto. Mostra a capacidade inventiva, a força combatente e vontade de vencer do nosso povo.
É das entranhas do povo brasileiro que surge gente assim – da mesma forma que surgiu um operário, ex-retirante nordestino, que se tornou presidente da República. Na Copa do Mundo, tortuosos e arriscados são os caminhos que levam ao gol em cada partida. É preciso aliar a técnica apurada com a criatividade e o senso de oportunidade. Na sociedade brasileira, tanto quanto as considerações de ordem técnica, devem pesar a sensibilidade social e política do presidente e sua capacidade, como líder e governante, de mobilizar a vontade nacional em favor do novo projeto de desenvolvimento. Os caminhos, aí, mais do que no campo de futebol, são arriscosos (para usar a expressão do personagem de Guimarães Rosa), pois os poderosos interesses contrariados, daqui e de fora, geram contra-reação no parlamento, na mídia e nas mais diversas esferas da sociedade onde o conflito e a luta pelo poder se verificam.
Os Ronaldinhos e seus companheiros, na análise de um comentarista especializado, revelam traços de astros do passado, como Heleno de Freitas, Friedenreich, Zizinho, Didi, Pelé, Garrincha e tantos outros, e expressam, assim, a continuidade da tradição vencedora do futebol-arte.
Lula e os milhões de brasileiros que lhe dão base para governar e se inclinam a votar por um segundo mandato no próximo pleito, trazem na sua índole as marcas de Tiradentes, Frei Caneca, Zumbi, Padre Roma, Abreu e Lima, Oswaldão, Elenira Rezende, Carlos Danielli e tantos outros que tingiram com o seu sangue generoso a luta pela Liberdade e por uma nação soberana e socialmente justa.
Bom que o Brasil seja admirado e respeitado pela competência e pela magia dos seus craques.
Ótimo que, no mundo globalizado, o Brasil esteja se fazendo respeitar por nações amigas e outras nem tanto e por organismos internacionais, fruto de uma política externa independente e ousada.
Quem sabe, neste afortunado ano de 2006, o povo brasileiro possa iniciar julho com a conquista do campeonato mundial e em outubro comemore uma nova vitória política.
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