12 agosto 2006

Uma curiosa aritmética na rodada do JN com os presidenciáveis


Por Bernardo Joffily*

Muito já se falou e se vai falar sobre a rodada de entrevistas que o Jornal Nacional da Globo fez, nesta semana, com os quatro candidatos à Presidência melhor situados nas pesquisas. Afora as perguntas e respostas, o conteúdo, e a imagem, o gestuário, que tanto ocupam os marqueteiros, um pequeno cálculo aritmético merece ser feito: na vez de Cristovam Buarque, os entrevistadores ocuparam 27,5% da entrevista; com Heloísa Helena, 27,8%; com Geraldo Alckmin, 32,3%; e com Lula, 41,1%.

Não será talvez o mais crucial dos cálculos. Mas chama atenção, em uma seqüência em que os entrevistadores globais se esmeraram no formato igualitário, a começar pelo tempo de duração e indo até o detalhe de chamar o pretendente à reeleição de "candidato" mas não de "presidente".

William Bonner ocupou 29,2% da entrevista e Fátima Bernardes 11,9%. deixando 58,9% para o entrevistado. E o padrão destoou dos outros capítulos da rodada. Há quem tenha visto numa tamanha desproporção o desejo de acossar o presidente Lula.

Os professores de jornalismo, e até os alunos, dirão que pelo contrário: a primeira regra do entrevistador é fazer perguntas curtas, sem prolegômenos nem rodeios, simples e diretas, onde o ponto de interrogação não deixa espaço se não para a resposta também direta. Dirão também que William e Fátima se mostraram nervosos, quem sabe intimidados pelo cargo ou a biografia do entrevistado. São argumentos respeitáveis, que contudo não eliminam o fato da desproporção nem a hipótese da intenção encurraladora.

* Editor do portal Vermelho www.vermelho.org.br

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