A pesquisa CNI-Ibope e a esperança dos nordestinos
Luciano Siqueira
Sou meio arredio a comentar pesquisas eleitorais e de avaliação de governos. São necessárias, sim; fornecem-nos indicações valiosas, idem. Mas em geral podem ser consideradas um retrato, um “instantâneo” como se dizia antigamente, e não a expressão fiel da realidade, que está em constante movimento. Por isso se prestam muitas vezes a análises tendenciosas ao gosto político do “analista”.
Feita a ressalva, tomo a liberdade de chamar a atenção do leitor para a convergência entre os elevados índices de aprovação conferidos ao governo e ao presidente Lula no Nordeste, segundo a pesquisa CNI-Ibope, e o crescimento da renda familiar na Região.
Vejamos. Quanto ao desempenho do governo, a aprovação chega a 92% no Nordeste, acima da média nacional, que é de 80%. Uma parcela expressiva dos que concorrem para índice tão elevado está justamente entre os mais pobres e de menor escolaridade – ou seja, parte considerável da população recém-incorporada ao mercado de consumo na esteira de programas governamentais. Gosta mais do governo e do presidente quem continua pobre, porém tem melhorado de vida.
O Nordeste tem apenas 28% da população nacional, mas concentra a metade dos pobres do país. Por isso metade dos recursos do Bolsa Família, que pularam de R$ 2 bilhões ao ano para R$ 10 bilhões ao ano, é injetada na microeconomia regional. Dados de agosto de 2006 indicam que a renda decorrente dos benefícios pagos no Bolsa Família foi 36,4% maior do que a do mesmo mês no ano anterior, proporcionando um crescimento das vendas do comércio da região bem acima da média nacional, o mesmo ocorrendo com a produção industrial.
Quer outra razão? O aumento real do salário mínimo, que aqui tem notável impacto, uma vez que a metade dos trabalhadores brasileiros nessa faixa salarial está Nordeste.
Bom, os impactos da crise global sobre o país e a chamada “recessão técnica” verificada nos últimos seis meses não atingem o Nordeste? Atingem, sim. Mas não fulminam a esperança dos nordestinos, que continuam acreditando no governo e confiando no presidente – como atestam os números da pesquisa CNI-Ibope.
Como esse fator influenciará as eleições de 2010, veremos. Mas não há nenhum motivo para imaginar que a oposição tucano-demo vem a atrair para si esse enorme contingente do eleitorado, mesmo que, por enquanto, o governador Serra esteja no topo dos mais citados quando se trata de candidatos à presidência. www.lucianosiqueira.com.br
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