Editorial do Vermelho www.vermelho.org.br
O general João Batista Figueiredo, que foi um dos ditadores do período militar iniciado em 1964, disse certa vez que “um povo que não sabe nem escovar os dentes não está preparado para votar”. Exprimia assim o preconceito muito difundido na elite brasileira de então para justificar os atentados contra a democracia e contra os direitos do povo.
Com a emergência da democracia e, principalmente, com a possibilidade concreta de Lula vencer a eleição presidencial em 2002, esse tema mudou de forma mas seu conteúdo permaneceu o mesmo. Questionava, agora, o preparo do candidato para governar. O mesmo tema voltou a freqüentar o noticiário e, como há oito anos contra Lula, agora é agitado contra a pré-candidata Dilma Rousseff.
Trata-se de uma frágil folha de parreira para esconder os preconceitos antidemocráticos de amplos setores da elite brasileira. Ele atenta, em primeiro lugar, contra o dispositivo constitucional que assegura a mais completa igualdade política entre os cidadãos brasileiros, e cujo exercício não admite julgamentos subjetivos que hierarquizem as pessoas pelos seus pretensos méritos. A velha, surrada e elitista meritocracia.
Aquela alegação conservadora não considera que governar não é tarefa de uma pessoa só, mas exige um dirigente capaz de articular forças olíticas e sociais, e que tenha liderança e sensibilidade para os problemas mais gerais colocados pelo segmento social que representa.
Estas capacidades não se aprendem na escola mas na luta política. Elas permitem mobilizar, em torno de um projeto de governo, o conjunto de profissionais e técnicos para compor equipes responsáveis pelas atividades administrativas.
É, aliás, esta capacidade de mobilização e o exame das forças que articula e das personalidades que arregimenta para compor uma administração que permitem ao eleitor identificar de forma clara qual a linha política seguida por este ou aquele governo ou candidato.
O ex-presidente tucano Fernando Henrique Cardoso talvez tenha sido o mais acadêmico dos presidentes brasileiros, com título de doutor e homenageado em inúmeras universidades no Brasil e no exterior. Portanto, do ponto de vista daquela pergunta, um dos mais preparados. Mesmo assim seu governo foi um desastre para os trabalhadores brasileiros, para as empresas nacionais (públicas ou privadas), para a economia de nosso país. Foi incompetente para enfrentar as crises econômicas internacionais, empobreceu o povo e estagnou o país. Era para isso que ele estava preparado: governar para os ricos e para os interesses estrangeiros.
O presidente Lula, por sua vez, é um homem que, como a maioria dos brasileiros, teve poucos anos de estudo formal. O diploma que o honra é o de ferramenteiro, pelo Senai. Este foi o fundamento para a alegação de que estaria despreparado para governar. Desde 2003, entretanto, o mundo é testemunha do contrário. Seu governo organizou o país para o desenvolvimento, relançou a economia, iniciou a recuperação da renda e do emprego, reforçou a auto estima dos brasileiros, restaurou a soberania nacional, livrou o país do FMI e criou as condições que permitiram o enfrentamento altaneiro da mais grave crise econômica internacional dos últimos oitenta anos. Era para isso que estava preparado, e sua escola foram as décadas de liderança na luta social e política dos trabalhadores brasileiros.
A comparação entre os governos de FHC e de Lula permite formular a pergunta sobre o preparo dos candidatos de maneira apropriada. A questão verdadeira não é saber se o candidato está preparado, mas para quê. A resposta não é apenas o nome de uma pessoa mas sim um programa de governo.
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