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Antecipação do debate sobre sucessão municipal só interessa à oposição
A antecipação do debate sobre as eleições de 2012, a ditadura militar e a reforma política foram alguns dos temas da entrevista concedida pelo deputado Luciano Siqueira (PCdoB) ao jornalista Ciro Bezerra, da Rádio Olinda, na manhã desta segunda-feira (14). Veja abaixo os principais trechos da conversa, que contou ainda com a participação do cientista político Eli Ferreira.
Ciro Bezerra - Lendo os cadernos políticos dos nossos jornais vi que o senhor tentou colocar as rédeas no debate sobre a sucessão municipal em 2012, que o senhor diz exacerbado, extemporâneo, fora de tempo. Mas, está todo mundo falando disso. Em qualquer cidade que se chega hoje, as pessoas já estão se articulando para o ano que vem.
Luciano Siqueira - É natural. Na verdade, eu não quis por rédeas porque não tenho esse poder. Fui entrevistado pelo jornalista Ayrton Maciel e opinei sobre o assunto, expressei a minha opinião, a opinião do PCdoB. Veja bem, todos os partidos políticos estão se preparando para o próximo pleito, todos sem exceção, isso é uma coisa. Mas, outra coisa é abrir a discussão sobre a sucessão do Recife, que era o foco da matéria, de maneira muito antecipada, o que só interessa à oposição. Minha ponderação era em relação às forças que compõem a Frente Popular, não só ao próprio prefeito João da Costa, que ao voltar da licença do tratamento de saúde tomou a iniciativa de falar da sucessão e eu disse para ele que achava extemporâneo porque eu fiquei oito anos na Prefeitura do Recife ao lado de João Paulo, que dividia muita coisa do governo comigo, e sei como o episódio eleitoral repercute sobre a gestão.
O correto é o que Eduardo Campos fez. Eduardo Campos foi muito firme em não abrir a discussão sobre sucessão, há de ser no tempo devido, porque ele bem sabia que podia atrapalhar a obra do governo. A imprensa cumpre seu papal ao fustigar os políticos sobre o assunto. Agora cada um diz o que quer. O PCdoB vai disputar as eleições para prefeito em pelo menos 15 ou 16 cidades em Pernambuco, algumas delas cidades muito importantes, no entanto nós não estamos antecipando essa discussão. O que nós estamos é nos esforçando para compor nossa chapa de vereadores, até porque o que eu digo na matéria é que, se chamassem agora os partidos para discutir a sucessão de João da Costa, seja ele o próprio candidato à reeleição ou outro candidato, ninguém gostaria, ninguém queria, porque nenhum partido se sente preparado. A discussão será daqui a um ano quando então todos terão suas cartas a colocar à mesa.
Isso é da política. Eu já acompanho esse processo desde que saí da cadeia, desde 1978, e sei que no período pré-carnavalesco os jornais ficam com um espaço vazio e fustigam aqueles que não têm a língua presa, que falam sobre tudo. Cada um diz o que quer. Tudo bem. Mas, tem alguns que não queriam falar certas coisas porque, primeiro não correspondem ainda à realidade e segundo só podem criar desavenças e dificuldades.
A pauta atual é como Pernambuco pode dar sequência, dar sustentabilidade, a esse processo de desenvolvimento econômico e social tão rico que está empreendendo. A pauta do Recife, Olinda, Jaboatão, Camaragibe e assim por diante é como esses municípios podem se inserir nesse processo e corrigir suas distorções, dificuldades e problemas. Imagine, que as cidades aqui da Região Metropolitana Norte, que é a parte menos favorecida no desenvolvimento econômico de Pernambuco, a Metropolitana Sul é mais rica. Imagine se, ao invés de discutir os caminhos, as alternativas de se atrair investimento, de construir escolas técnicas para capacitar mão de obra para atender essas demandas do desenvolvimento econômico, os prefeitos estivessem debruçados sobre a própria sucessão, as coisas estariam invertidas, os carros colocados na frente dos bois e problemas criados desnecessariamente.
Vocês sabem que eu sou marxista e tem uma frase de Karl Marx que ele colocou num livrinho sobre economia, salário, preço e lucro que diz que a humanidade não coloca diante de si um problema que não possa resolver, a nossa tarefa é identificar a solução. O que ele que dizer com isso? Que não adianta também discutir, antecipadamente uma coisa que não está madura. Um cientista como Eli Ferreira usa muito a expressão “variável”, são muitas as variáveis, são muitos os fatores que vão interferir para formar o cenário das eleições 2012, a maioria já está a caminho. Para que se discutir agora? A não ser que as pessoas prefiram aquela norma, ou aquele lema: “Por que fazer as coisas de maneira simples, se podemos complicá-las?”
Dá nossa parte, do PCdoB e da minha parte, não temos a menor intenção de complicar nada, ao contrário, temos a intenção de ajudar e ajudar, sobretudo, para que os governos municipais e o governo Eduardo Campos possam realizar seus programas de governo a contento. E vamos discutir as eleições majoritárias no tempo devido. Enquanto isso, nós estamos não só preparando militantes do partido nos diversos municípios para a disputa de vereador, como de braços abertos acolhendo em nossas fileiras homens e mulheres honrados e desejosos de lutar pelo socialismo e interessados em realizar suas atividades políticas pelo PCdoB.
Temos de respeitar os tempos de governo, isso eu aprendi também na prefeitura, mesmo quando se trata de uma eleição, mesmo Eduardo Campos. Agora, você tem os primeiros oito meses que é de rearrumação do governo, de novas equipes, etc., depois você vai ter mais um ano, um ano e meio, de maturação dos projetos e realização das coisas. É no último um ano e meio de governo que você colhe o resultado do que você fez. Agora, se no meio do caminho passa a discutir eleições cai no imediatismo de fazer de todo jeito e fazer a toque de caixa.
CB - Para melhorar a imagem, tem essa aproximação do prefeito João da Costa com o mago das pesquisas que é o Lavareda. O senhor já parou para analisar isso, é bem-vindo Antônio Lavareda nas hostes dessa aliança dos senhores, uma vez que ele foi tão demonizado por esses mesmos senhores no passado, que trabalhou e ao lado de Jarbas Vasconcelos fez tanto para derrubar os governos que vocês participavam.
LS – Eu desconheço inteiramente esse assunto, vi uma referência em uma matéria de jornal e ninguém nunca me falou sobre isso e, sinceramente, não sei exatamente que tipo de aproximação, do ponto de vista de ideias, possa existir entre o prefeito João da Costa e Antônio Lavareda, com todo respeito ao que cada um pense. Eu tenho isso como regra de conduta: respeitar o pensamento de cada um. Agora, de fato ninguém me falou e, portanto, não é um assunto meu, é um assunto do prefeito João da Costa. Se for procedente a informação de que ele estaria em vias de contratar os préstimos do sociólogo Lavareda, então eu não tenho opinião sobre o assunto.
CB - Algumas pessoas fazem uma confusão, com a época do regime militar e o nível de campanha que nós temos hoje, em que cada um quer agredir o outro. Explique isso melhor, deputado.
LS - Não sei se Eli (Ferreira) concorda comigo, mas eu tenho impressão de que uma parcela desses marqueteiros e políticos que vieram da luta pela redemocratização, contra a ditadura militar, se confundiu com dois fatos. Primeiro, no período do regime militar, campanha de 1982, por exemplo, foram eleitos no Brasil inteiro candidatos que se manifestaram mais agressivos, portanto, mais corajosos na denúncia contra o regime. Isso é uma coisa. A população precisava sentir a necessidade de porta vozes que expressassem o sentimento de revolta. Na eleição de 1985, no Recife, Jarbas ia perder as eleições para Sérgio Murilo e na reta final da campanha, salvo engano meu, com 18% de diferença pró Sergio Murilo, surgiu uma denúncia que Sergio Murilo teria assassinado um motorista, alguém que tenha tido uma altercação com ele em Carpina. Essa denúncia era divulgada através de panfletos apócrifos pegando a periferia da cidade e a campanha de Sérgio Murilo cometeu um erro grave ao colocar o então deputado, hoje presidente da Federação Pernambucana de Futebol, Carlos Alberto Oliveira, para ir à televisão explicar o fato.
Eu assistia ao programa eleitoral, pela TV, com minha sogra, uma pessoa de origem, muito humilde, e quando Carlos Alberto terminou de explicar ela disse assim: “Mas, não está certo, porque ele foi agredido por um rapaz de porrete na mão e ele reagiu com bala”. Ou seja, a população do Recife rejeitou votar num candidato a prefeito que era autor material de um crime de morte, uma notícia que era circunscrita a uma parcela da população veio à tona. Aí Jarbas ganha as eleições de maneira espetacular. A partir daí muitos desses que eram nossos companheiros na época e hoje são nossos adversários, encararam a ideia de que para ganhar as eleições tem que ir para o desaforo. Essa não é minha experiência, a população rejeita o desaforo, ela está cansada disso.
Vejam a campanha de 2000. Roberto Magalhães tinha mais de 70% de avaliação positiva de sua gestão, era franco favorito à reeleição. Temendo o crescimento de Carlos Wilson, a campanha de Roberto Magalhães fez uma campanha difamatória no sentido de destruir o concorrente. A campanha de Carlos Wilson usou com muita espiritualidade o “Mané Chinês”, o nosso “velho mangaba”. Nós víamos nas pesquisas que as agressões da campanha de Roberto Magalhães e as respostas jocosas da campanha de Carlos Wilson não davam votos a nenhum dos dois, pelo contrário o eleitor ia se cansando de ambos, rejeitando a truculência da campanha de Roberto Magalhães e migrava para João Paulo, que tinha começado com 4% das intenções de voto.
CB - Temos as prefeituras de Olinda e Camaragibe lideradas pelo PCdoB. Existem outras em Pernambuco? Em relação a João Lemos, ele tem uma boa relação com o governador? O PCdoB interfere nessa relação?
LS – O PCdoB tem as prefeituras de Sanharó e Goiana. Sim, João tem uma boa relação com Eduardo Campos. Agora, ele enfrenta uma situação muito dura. Em geral, as prefeituras sentiram o impacto da chamada crise global, que incidiu sobre a queda da arrecadação. Todos tiveram de conter despesas, não renovar contratos de prestação de serviço. Isso prejudicou em parte a prestação de serviços públicos essenciais à população e assim por diante. No caso de Camaragibe, salvo engano, a cifra é em torno de R$ 800 mil/mês perdidos com a redução do FPM (Fundo de Participação dos Municípios). Isso porque, de tempos em tempos, o IBGE calcula a população e isso é um elemento importante no cálculo do repasse do FPM.
Ainda no governo Lula, ele socorreu os municípios, pois não seria justo que a União se livrasse do problema e os municípios assumissem toda a carga, até porque desde a Constituição de 1988 continuam sendo gradativamente transferidas para o município responsabilidades que anteriormente eram da União sem a devida correspondência financeira. Governar os municípios não é fácil, é preciso muito esforço e muita determinação e fazer como João Lemos faz, como João Paulo fazia e acredito que João da Costa também esteja fazendo: controlar com mão de ferro a execução orçamentária. Se o prefeito perde o controle da execução orçamentária em um mês, ele vai passar um ano tentando corrigir e restabelecer a normalidade financeira da prefeitura e é difícil conseguir.
Todos os prefeitos, os que são operosos e estão emprenhados em realizar as suas ações, agora é que começam a colher os frutos disso. Vejam o caso de Olinda. A Prefeitura de Olinda está sendo muito elogiada, inclusive pela a presidenta Dilma e também nos ministérios porque é um exemplo na execução das obras do PAC. Isso significa dizer que Olinda não tem problemas? Tem muitos problemas. Até porque é uma cidade que tem uma receita 1/12 menor do que a do Recife e uma população que se aproxima de um terço da população do Recife. São muitos problemas. É uma cidade dormitório, que vive do turismo, mas tem pouco porque não tem rede hoteleira. No entanto, é um canteiro de obras.
Existe mil formas de um prefeito se comunicar com a população. Agora, eu aprendi isso pela observação, é mais intuitivo: obra física que beneficia a população é a obra nos corredores de trânsito, na orla, no centro da cidade e nas áreas mais pobres, para facilitar as condições de vida. Obras físicas é a principal forma de uma gestão se comunicar com a população. Qual é o desafio de João da Costa? É mais de um bilhão de reais para investir em obras, é realiza-las, é dar capacidade realizadora ao governo. Se der tempo ele fazer, a avaliação do governo crescerá muito. Mas, isso não quer dizer tudo, pois, como eu citei, Roberto Magalhães tinha 70% de aprovação e perdeu as eleições.
No começo de abril, nós vamos voltar às ruas e fazer o que fizemos quando nos elegemos vereador. Vamos voltar às ruas, aos semáforos, com um panfleto divulgando nosso site na internet, onde as pessoas podem acessar e ver diariamente o que nós estamos fazendo, realizando, com quem estamos tratando, com o nosso endereço no Twitter, no Facebook e todos os telefones do escritório e gabinete, além do e-mail, e pedindo à população que fiscalize, cobre e critique o mandato.
Eu estava dizendo a Eli (Ferreira) antes de começar o programa que em um ano e meio de mandato nós reunimos mais de 1.200 pessoas na Câmara do Recife em audiências públicas sobre questões importante da vida da cidade e resultou boa parte em projetos de lei e outras ações com resultados práticos. Acho que é possível fazer isso também na Assembleia Legislativa, é obrigação fazer sob o olhar crítico da população. Se o povo brasileiro acompanhasse ativamente a atividade dos políticos que elegem talvez a renovação da política pudesse se dar de maneira acelerada.
Eu fiz praticamente a campanha só no Recife. Olinda eu não permiti que ninguém fizesse campanha para mim. A todos que vieram fazer minha campanha, eu sugeri que em Olinda fizesse a campanha de Luciano Moura. Mas, na campanha estive em Goiana e já fui almoçar duas vezes com o prefeito Henrique Fenelon me sentindo obrigado a honrar os compromissos que assumi de ajudar e apoiar os esforços daquela região da Mata Norte para se inserir no processo de desenvolvimento de Pernambuco.
CB – Luciana Santos vai para o Ministério do Esporte?
LS - Pergunte a presidenta Dilma.
CB - Dilma disse que não ia fazer ajuste fiscal e está cortando R$ 50 bilhões de cara...
LS - Não é ajuste fiscal é corte de custeio, é uma coisa diferente, uma parte ruim da medida da Dilma é o aumento dos juros, ai sim, é complicado porque inibe o desenvolvimento econômico.
CB - João é João?
LS – Politicamente eu ainda acredito que sim porque a linha de governo é a mesma. Mas, do ponto de vista pessoal eu daria um milhão de reais, se tivesse, para reaproximá-los para o bem da cidade do Recife.
CB - João Paulo deixa o PT?
LS – Eu converso muito com João Paulo somos muitos amigos, temos muita confiança um no outro, mas não sei dizer se ele deixaria o PT.
CB - Ninguém está batendo em Eduardo Campos, ele está solto na buraqueira. Não tem nada errado neste governo?
LS – Não, fazem críticas também. Eu quero dizer a você que mesmo sendo da bancada do governo, não em um tom de oposição, mas quando achar conveniente, devo também oferecer a crítica ao governador. Pior amigo é aquele que concorda com tudo, bom amigo é aquele que adverte e aponta eventuais equívocos.
CB - Os trabalhos legislativos retornam hoje após o carnaval. O que o senhor vai debater na Assembleia?
LS - Nós estamos preparando um pedido de informação sobre a relação entre os empreendimentos industriais sediados no Complexo Portuário de Suape e a questão ambiental. Faz parte do programa de governo de Eduardo Campos o desenvolvimento com equilíbrio, com a garantia de sustentabilidade ambiental, e nós vamos conferir isso cumprindo o dever do Poder Legislativo de acompanhar e fiscalizar, como também destacar as medidas positivas que porventura estejam sendo tomadas.
CB – E a reforma politica?
LS - Eu não acredito que vá ter reforma política e se houver agora ela será ruim. É verdade que nesta eleição se debateu um pouco a reforma politica, mas muito pouco, e a composição das comissões é proporcional ao tamanho das bancadas e aí o partido resolve indicar um deputado que não tem uma boa imagem para aquela comissão e os outros devem acatar porque é proporcional ao tamanho da bancada.
CB – Como explicar o alinhamento do PCdoB de São Paulo com (Gilberto) Kassab (DEM)? Agora, Kassab não vai nem para o PMDB, nem para o PCdoB, vai para um partido que ele vai fundar...
LS - Não há alinhamento do PCdoB com Kassab, há um diálogo. O que acontece é que se ele funda um novo partido e migra para a base do governo seria uma atitude de intolerância se eu dissesse: “Eu não quero você aqui, vá para lá e brigue comigo”. Existem maneiras de absorver o apoio. Outra coisa seria se eu dissesse; “Venha, agora meu programa não muda”. Se ele quisesse, se uniria ao nosso projeto. Apoio não significa adesão.
Da Redação do site.
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