A pulga, a ciência e a paz mundial
Luciano Siqueira
Houve tempo, quando ainda menino, dei-me ao trabalho (e ao prazer) de listar fenômenos que ouvia dizer nem a ciência mais avançada seria capaz de explicar. O tempo passou, a lista se perdeu nos escaninhos da minha memória: não seria capaz de repetir a proeza. Mas de uma coisa tenho certeza: não estava na lista a complexa questão do salto da pulga.
Nada de preconceito com o pequenino inseto. Ignorância mesmo. Nem me dava conta de que as danadinhas saltam bem mais longe e com maior rapidez do que seria natural devido suas características anatômicas. Os cientistas já haviam descoberto que a energia necessária para transportar uma delas, por impulso próprio, a uma distância 200 vezes maior do que o comprimento do seu corpo é produzida por uma estrutura elástica, que nem uma mola, que faz parte daquele corpinho diminuto.
Ocorre que pesquisadores da Universidade de Cambridge, no Reino Unido, depois de exaustiva investigação, chegaram à conclusão de que esse impulso de fazer inveja aos melhores zagueiros do futebol mundial decorre de uma espécie de tração nas patas traseiras. Viva a ciência! Mas que diabo isso tem a ver com a nossa dura e fascinante vida cotidiana?
Ah, amigos, a boa pesquisa é aquela cujos resultados podem trazer melhoria para a vida de nós outros pouco afeitos a notáveis descobertas científicas. Nesse caso, depois de fazer imagens das pulguinhas em saltos mortais e outras acrobacias impressionantes, com câmeras capazes de capturar objetos se movendo em alta velocidade, os cientistas descobriram que a tração na traseira faz com que a “mola enrolada” se solte e projete o inseto às alturas e a largas distâncias. Por que não construir robôs capazes de fazer o mesmo?, perguntam-se pesquisadores debruçados sobre novas propostas de pesquisa em busca financiamento.
Esses robôs saltitantes serviriam para quê, não sei. De toda sorte, os cientistas ainda se dizem preocupados porque ainda falta esclarecer alguns aspectos da agilidade da pulga. Por exemplo, não sabem como elas travam as pernas no exato momento em que comprimem a mola.
Morou na filosofia, quer dizer, na ciência? Quem sabe alguns problemas cruciais do nosso tempo possam ser solucionados a partir dessa descoberta. Talvez um dia se faça uma assembleia na ONU em que todos os chefes de Estado finalmente convirjam numa mesma direção e a exploração e a opressão de classe seja abolida, e a partir disso todas as injustiças do mundo sanadas e a paz universal finalmente estabelecida. Ao final, como adendo à resolução aprovada, por decisão unânime de todas as nações devidamente representadas, seja determinada a construção de uma estátua do pequenino inseto no marco zero de todas as capitais do mundo – como justo reconhecimento ao salto da pulga como exemplo de sabedoria, harmonia, destreza, equilíbrio, agilidade e perfeição. E sejamos todos felizes.
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