No Vermelho, por Eduardo Bomfim
Falso brilhante
Para nós, exige muita reflexão a singularidade da realidade brasileira em um mundo conturbado, cheio de conflitos através de agressões militares e dos interesses imperiais lançando-se sobre as nações em um cenário de descolonização inconclusa, como é o caso atual dos países árabes além de várias outras regiões mundo afora.
Um País de dimensões continentais habitado por um povo com características antropológicas excepcionais, avesso por formação endógena a manifestações sectárias, celebrante de ritos como o carnaval e amante desse balé para multidões como é o futebol, detentor de incalculáveis manifestações artísticas diversificadas e sincréticas ao mesmo tempo.
E é exatamente esse mesmo Brasil que se vê pelejando sistematicamente contra uma cultura e uma ideologia que não é a sua porque é importada e não lhe acrescenta nada de novo porque é carregada de artificialismos e terceiras intenções em sua própria origem externa.
A tudo isso sempre se justifica porque vivemos na era da globalização e que assim estamos sob o guarda-chuva de uma cultura internacional e mundializada, como se não houvesse o exercício da hegemonia imperial através da mídia oligopolizada e as ideias em trânsito não fossem impostas sem nenhuma sutileza.
É como se houvesse algum exercício de consensualidade ou pelo menos algum tipo saudável de permuta de valores, entre o império e os demais países, minimamente equilibrada. Sob essa falsa premissa ou argumento, o que se exerce mesmo em nossa terra é o pragmatismo mais vulgar.
Não é à toa, portanto, que os grandes esforços teóricos que produziram obras da envergadura de O Povo Brasileiro, de Darcy Ribeiro, e vários outros escritos fundamentais à compreensão do nosso processo civilizatório, são despachados sorrateiramente, astuciosamente, para as calendas gregas e assim não causem maiores tumultos.
O que se pretende ou pelo menos se exercita na prática é a adequação do País à semelhança da realidade apartada, fragmentada, belicista e em muitos casos patológica mesmo, da formação social do império do norte e suas variantes disseminadas pela Europa especialmente a anglófila.
Com o multiculturalismo como ideologia hegemônica da grande mídia global e nacional, por interesses de dominação, de mercado, gerando-se até determinadas políticas de Estado, tenta-se construir de maneira artificial, assim como um falso brilhante, através da promoção forçada de uma crise de identidade antropológica, um esquizóide Estados Unidos dos Trópicos.
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